A sexta-feira, dia 19 de agosto, é uma data para sempre marcante em Mogi Mirim. Isso desde o ano passado, quando, num dia como este, a cidade se despediu de uma dos maiores ícones religiosos em seus mais de 250 anos de história. E neste final de semana há uma programação especial em memória do Monsenhor Clodoaldo Nazareno de Paiva.
Entre sexta-feira, 19, e domingo, 21, a cripta em que o eterno pároco foi sepultado estará aberta para visitação. Será sempre a partir das 15h e até o fim das atividades da Igreja Matriz da Santa Cruz (após as missas da tarde).
Nesta sexta, na cripta, que fica na praça Tiradentes, houve recitação de orações e Terço Mariano a partir das 19h30. Já neste sábado, 20, às 18h, está programada uma missa na Matriz, a ser celebrada pelo padre Paulo Henrique Dias em homenagem àquele que foi o primeiro pároco da Santa Cruz, logo em sua criação, em 1959.
Despedida
No dia 19 de agosto de 2021 foi noticiada a morte do Padre Paiva. Ele passou mal na noite anterior, foi internado, seu quadro clínico piorou e, aos 93 anos, faleceu. E sua memória foi respeitadíssima, principalmente, no local que marcou sua passagem por Mogi Mirim: na Igreja da Santa Cruz. Afinal, foi lá, em 1959, que o Padre Paiva deu início a esta comunidade. Ele havia chegado em Mogi anos antes, no início de 1954, logo após ser ordenado padre. Seguiu a missão que o irmão mais velho entre oito filhos, Francisco, assumira, mas por pouco tempo, devido a uma morte precoce.
No dia do sepultamento, 20 de agosto, céu limpo e muito calor em pleno outono. No relógio, 6h29. Foi o exato momento em que teve início o velório do Padre Paiva. Também dono dos títulos de cônego e monsenhor, teve seu corpo conduzido até a Matriz de Santa Cruz por membros da Secretaria de Segurança Pública, composto pela Guarda Civil Municipal (GCM), com a Ronda Ostensiva Municipal (Romu) e GOC (Grupo de Operações com Cães) e pelo Corpo de Bombeiros.
Aos poucos o velório foi se enchendo por aqueles que desejavam se despedir do Padre Paiva. Desde o início do ato fúnebre, a igreja foi tomada por lembranças, histórias e muita emoção. Sentimento de quem acompanhou o religioso por décadas. Quando os ponteiros apontaram para as 8h, teve início a primeira missa em sufrágio ao líder que construiu o templo em que os fiéis se reuniram para a despedida. Já à tarde, às 14h, foi realizada a missa exequial. Ou seja, o momento de cumprir o rito com o qual a comunidade cristã acompanha seus mortos e os encomenda a Deus.
As celebrações tiveram a presença de padres de várias comunidades de Mogi Mirim. No comando das missas, o padre Charles Franco Peron, então pároco da comunidade. O bispo diocesano de Amparo, Dom Luiz Gonzaga Fechio, também se fez presente no rito religioso deste dia de despedida. Após as missas, silêncio. Nas mãos de guardas municipais, o caixão com o corpo de Padre Paiva deixou o salão. Tudo ao som de violino, preparado pelo cerimonial da Funerária São Luiz, empresa responsável pelo velório.
Dali seguiram ao local do sepultamento, situado ali mesmo, na igreja. Na igreja que o Padre Paiva edificou, seu corpo foi sepultado em uma cripta idealizada por ele. Para que isso ocorresse e seu desejo fosse mantido, ficar na igreja que ajudou a construir, foi aprovado um projeto de lei, no início dos anos 2000. A autorização de enterro fora dos cemitérios do município, algo vedado, até hoje, pela LOM (Lei Orgânica do Município), foi uma exceção a alguém que, sem dúvida, escreveu páginas raras na cidade que adotou.
A cripta tem mais de 50 metros quadrados. Mas, o que mais chama a atenção, é o jazigo, localizado bem no centro deste espaço. É ali que residia o desejo de Paiva em fazer morada eterna. Em termos técnicos, importante explicar aos leigos. Ele possui um sistema para conter qualquer vazamento de fluidos corporais. Algo que talvez nem fosse necessário, já que o corpo de Padre Paiva foi embalsamado.
E assim, da maneira como desejou, o Padre Paiva se despediu deste mundo para olhar por seus filhos de outro plano. Por aqui, na terra que recebeu o privilégio de tê-lo como líder, seu nome jamais será esquecido. Como é a função da rodovia (entre Lindóia e Mogi Mirim) que leva o nome do monsenhor desde 21 de março de 2006, o eterno padre sempre será um elo. Entre nós e algo superior. Entre nossa frágil vida terrestre e a força a quem sempre este cidadão mogimiriano confiou sua fé.
História
Querido em todo o município, Padre Paiva chegou por aqui um mês após a ordenação, que ocorreu em 6 de dezembro de 1953. Veio para auxiliar o monsenhor José Nardin, que na época substituía Moysés Nora, que havia falecido.
Após um período fora, em 1959, voltou para Mogi Mirim, após convite de Nardin, para fundar mais uma paróquia, a da Santa Cruz de Belém, na qual faziam parte, em sua maioria, fiéis moradores de sítios na região. A data oficial de fundação é 25 de outubro de 1959. Mas, a igreja foi erguida pouco antes, em 1957. A estrutura carecia de melhoras, por conta de instabilidade no solo. E o Padre Paiva fez tudo ficar em pé. E seguir em frente!
Em 1985, foi construída a nova Igreja da Santa Cruz, feita por 120 estacas de concreto e decorada pelos tradicionais e coloridos vitrais, que permanecem até hoje.
Agora, entre os detalhes que marcam a construção, uma parte fundamental para que a edificação se tornasse realidade faz parte do cenário. Ali estará, para sempre, o corpo do homem que nasceu em 6 de abril de 1928 e que entrou para a eternidade em 19 de agosto de 2021.