Gasto grande parte da minha vida lutando contra conceitos. Mas não é assim uma oposição por oposição. Confesso que, primeiro, tento ver se me encaixo na conduta padrão e quando isso não acontece, começo então a tentar entender o porque.
Eu sempre gostei de música animada, essas bem modinhas mesmo, sabe?! Mas, por algum tempo, percebi que tinha vergonha de assumir. É que, intelectualmente, isso não era bem visto. Fui empurrando para baixo do tapete até que chegou a adolescência da Gabi e do Neto e com ela todo o preconceito pedagógico para com quem ouve funk.
Claro que eu não gosto do que diz a maioria das letras. E sim, são péssimas. Mas deixá-los ouvir em casa e ou nos locais em que eu esteja é a forma de “estar por dentro”. Prefiro ir de forma irônica os fazendo refletir, dando contrapontos e trazendo para a nossa realidade do que aumentar o tabu.
Eu cresci ouvindo “É o Tchan” e nem por isso me perdi pelo caminho. Para falar a verdade, tem muita música considerada podre pelos intelectuais de plantão que me fazem remexer no carro, que muitas vezes aliviam um momento de tensão no trânsito e afastam aquela preocupação que está martelando na minha cabeça.
Acho sim que ela influencia em nosso estado de espírito e, por isso, tão importante quanto a letra, é a batida e o sentimento que ela nos provoca. Penso até que ela é capaz de nos levar a um estado de “êxtase” que deixe o corpo tão livre para remexer que nem preste atenção no que a história diz. Mas, vale um forró que deixe a alma leve que uma ópera que escureça o coração.
Sem falar nas memórias. Nossa última viagem ficou marcada pela “Letícia, Letícia. Pra onde você vai com aquele mototaxista”, uma história de sofrência, cantada pelo cantor pernambucano Zé Vaqueiro, que nos tirou muitos risos.
Que fique bem claro que a minha pretensão com este texto é somente ponderar. Tecnicamente não tenho conhecimento nenhum sobre melodia, ritmo e harmonia. Defendo apenas que, se a base é boa, não será uma música que tornará alguém bandido, que fará a menina tomar a decisão de perder a virgindade da mesma forma que conhecer os clássicos não tornará alguém mais inteligente. Aliás, isso está muito mais relacionado à quantidade de experiências.
Segundo o dicionário, cultura é um conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo. É o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência transformando a realidade. E a música, independente de qual, faz isso. Conta histórias. Foi então que encontrei conforto.