Por muito tempo, não existiu no Brasil uma liberdade de expressão para denunciar abusos, equívocos do Poder Público ou mesmo pronunciar posicionamentos mais polêmicos. As pessoas se viam inibidas a apresentar seus pontos de vista, sob o temor de que as forças públicas pudessem agir de forma violenta diante de um cenário coercivo que dominava o país.
Diante de situações em que os caminhos traçados não saiam como o esperado, muito simplesmente engoliam de forma resignada. Ainda há quem aja assim ou, então, até mesmo simplesmente não possua interesse ou capacidade para refletir, ter e manifestar um posicionamento.
Na atualidade, embora a liberdade de expressão ainda não exista em sua plenitude, há que se comemorar que a população já se sente mais livre para apresentar pontos de vista discordantes. Reivindicações são realizadas, opiniões são apresentadas e reclamações são feitas por vezes até de forma exacerbada, sem o mínimo de inibição.
Sem entrar no mérito se as reclamações têm fundamento, há de se apontar como positiva do ponto de vista conceitual a manifestação de revolta das pessoas que consideraram ter ocorrido injustiças e irregularidades no sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. É evidente que não devem ser apoiados os excessos em que se inserem ofensas pessoais, como fez uma reclamante em reunião na Câmara Municipal. Embora o nervosismo possa ser perfeitamente entendível como algo natural do ser humano, o desrespeito ao semelhante não é algo positivo. No entanto, de forma geral, as reclamações representaram um cenário de indignação de um grupo.
Diante das reclamações, é importante que a Prefeitura apresente seu posicionamento ao grupo e, de forma transparente, busque esclarecer cada apontamento reclamado. Se não houve equívocos, é importante que os reclamantes recebam os esclarecimentos. Se há problemas reais, estes devem ser corrigidos. Um ponto preocupante colocado é que, diferente do que está previsto, não teriam ocorrido visitas de assistentes sociais a algumas famílias sorteadas, gerando assim uma dúvida da veracidade das informações apresentadas pela falta de uma conferência. Esse é um ponto a ser observado.
Se por um lado deve ser considerado positivo um movimento que busque reivindicar anseios e manifestar posições, por outro é fundamental se lembrar que as manifestações devem ser frequentes por motivos variados e de ordem coletiva. Fica a dúvida se as pessoas reclamam simplesmente por interesse próprio de ter direito a um apartamento ou se estariam mergulhados de cabeça nas reivindicações caso não estivessem pleiteando uma moradia.
Não se retira o direito de reclamar por interesse próprio até pela importância da liberdade de expressão e pelos direitos individuais, mas indubitavelmente será muito mais saudável para a sociedade o momento em que as reivindicações tiverem um caráter de real defesa da coletividade, com a comunidade abraçando e defendendo os prejudicados em cada situação pontual.