sábado, novembro 23, 2024
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Liberdade e interesse coletivo

Por muito tempo, não existiu no Brasil uma liberdade de expressão para denunciar abusos, equívocos do Poder Público ou mesmo pronunciar posicionamentos mais polêmicos. As pessoas se viam inibidas a apresentar seus pontos de vista, sob o temor de que as forças públicas pudessem agir de forma violenta diante de um cenário coercivo que dominava o país.
Diante de situações em que os caminhos traçados não saiam como o esperado, muito simplesmente engoliam de forma resignada. Ainda há quem aja assim ou, então, até mesmo simplesmente não possua interesse ou capacidade para refletir, ter e manifestar um posicionamento.

Na atualidade, embora a liberdade de expressão ainda não exista em sua plenitude, há que se comemorar que a população já se sente mais livre para apresentar pontos de vista discordantes. Reivindicações são realizadas, opiniões são apresentadas e reclamações são feitas por vezes até de forma exacerbada, sem o mínimo de inibição.

Sem entrar no mérito se as reclamações têm fundamento, há de se apontar como positiva do ponto de vista conceitual a manifestação de revolta das pessoas que consideraram ter ocorrido injustiças e irregularidades no sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. É evidente que não devem ser apoiados os excessos em que se inserem ofensas pessoais, como fez uma reclamante em reunião na Câmara Municipal. Embora o nervosismo possa ser perfeitamente entendível como algo natural do ser humano, o desrespeito ao semelhante não é algo positivo. No entanto, de forma geral, as reclamações representaram um cenário de indignação de um grupo.

Diante das reclamações, é importante que a Prefeitura apresente seu posicionamento ao grupo e, de forma transparente, busque esclarecer cada apontamento reclamado. Se não houve equívocos, é importante que os reclamantes recebam os esclarecimentos. Se há problemas reais, estes devem ser corrigidos. Um ponto preocupante colocado é que, diferente do que está previsto, não teriam ocorrido visitas de assistentes sociais a algumas famílias sorteadas, gerando assim uma dúvida da veracidade das informações apresentadas pela falta de uma conferência. Esse é um ponto a ser observado.

Se por um lado deve ser considerado positivo um movimento que busque reivindicar anseios e manifestar posições, por outro é fundamental se lembrar que as manifestações devem ser frequentes por motivos variados e de ordem coletiva. Fica a dúvida se as pessoas reclamam simplesmente por interesse próprio de ter direito a um apartamento ou se estariam mergulhados de cabeça nas reivindicações caso não estivessem pleiteando uma moradia.

Não se retira o direito de reclamar por interesse próprio até pela importância da liberdade de expressão e pelos direitos individuais, mas indubitavelmente será muito mais saudável para a sociedade o momento em que as reivindicações tiverem um caráter de real defesa da coletividade, com a comunidade abraçando e defendendo os prejudicados em cada situação pontual.

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