Ex-goleiro do Unidos do Inocoop no Campeonato Amador, Lira recorda a experiência de ver o time entrar em campo todo baqueado, depois do casamento do volante Paulinho Tabajara.
Boteco – Lembra de alguma história dos pagodes do Inocoop?
Lira –Ah, os pagodes do Inocoop viraram lenda.
Boteco – E para jogar no dia seguinte, iam de ressaca?
Lira – Normalmente tentava fazer o pagode com um jogo mais tranquilo no domingo para não arrebentar. Mas teve um ano que o Paulinho Tabajara casou. E o Inocoop estava naquela de classifica ou não classifica. E o Paulinho falou: vou casar, mas no outro dia, vamos jogar. Ia ter festa, tudo.
Boteco – Convidou vocês?
Lira – Convidou, fomos todo mundo, eu fui padrinho, Tibúrcio padrinho, o Bertola é casado com a irmã do Tabajara. Ali é família. Aí fomos pro casamento. Eu saí da festa uma hora da manhã porque minha filha era recém-nascida. Mas os caras ficaram e vararam a noite. No outro dia, à tarde contra a Santa Cruz, chegamos pra jogar, Paulinho no hospital tomando soro, nego passando mal no vestiário, Tibúrcio passando mal. E olhamos no vestiário tinha 11, comigo e com o Alan (goleiro). Os dois goleiros.
Boteco – Desses 11, alguns ainda estavam mal?
Lira – Alguns meio baleadão de cachaça. Eu e o Alan goleiro contando 11 ainda. Ali eu fui pro gol, o Alan foi pra linha e jogamos. A gente jogou, cumpriu a tabela, saímos ganhando ainda. Depois acabou 1 a 1. Mas nego baleado ali, falar uma coisa pra você, Tico. Molecada assinada ali tudo chumbada.
Boteco – Como é pro goleiro jogar de ressaca?
Lira – Pelo amor de Deus, você perde reflexo, perde tudo. Já passei minhas vergonhas. Não tem jeito. Você toma uns gols que não existe. Você olha pra bola, você acha que vai pegar, daqui pouco, você fala: ah, não dá. A cachaça não ajuda não. Uma vez, cada chute que ia eu rezava pra ir para fora do gol, porque se fosse pro gol, acho que entrava.
Boteco – Muitas histórias envolvendo arbitragem?
Lira – Joguei um ano, não vou falar clube porque vai me dar problema. A gente estava jogando pro Tucura contra um time que odeia o Tucura e o outro time precisava ganhar pra classificar. A gente estava ganhando de 1 a 0. O juiz deu um pênalti que não existe.
Boteco – Foi muito absurdo?
Lira – Na época acabou o jogo, o Bombarda correu atrás do juiz com um guarda-chuva. E o cara que foi bater o pênalti era da pesada. Aí pôs a bola lá e falou: “Pegou o pênalti, cri (sinal de degolar). Pegou o pênalti, couro vai comer”. Pensei: “caramba. Não vou pipocar. Se eu pegar, pegou, depois, eu corro. Depois os caras seguram o rojão comigo. Pegar, pegou”. Aí o cara foi bater o pênalti, escorregou. No que escorregou, bateu, a bola foi lá no trinco, golaço, no ângulo. Eu nem acreditei, caí no chão e dei risada.
Boteco – E aí você gostou, deu um alívio?
Lira – Não, eu não queria tomar. Só que aí os caras em cima, precisavam ganhar o jogo. Aí saía cruzamento na área, eu saía em todas as bolas, ele vinha me dava soco, chute.
Boteco – Ele jogava bem?
Lira – Não, entrou pra dar problema, colocaram ele para atormentar. Conclusão, acabou 1 a 1, eles estavam fora. Ah, meu amigo, o bicho pegou. Entrou o time inteiro dos caras e torcida, contra todo mundo. Por fim, o cara fez o gol (de pênalti), mas mesmo assim saiu fora, mas o juiz pipocou bonito. Viu o cara chutando a gente, dando soco. Por isso que Bombarda acabou o jogo e foi com o guarda-chuva atrás do juiz.
Boteco – Lira volta, no último capítulo de seu bate-papo, para recordar episódios diferenciados no futebol que atingiram seu coração.