O presidente do Mogi Mirim, Luiz Henrique de Oliveira, desrespeitou uma liminar concedida pela juíza Maria Raquel Campos Pinto Tilkian Neves e barrou a presença de associados oposicionistas da assembleia geral para prestação de contas do exercício de 2016, realizada na noite de quinta-feira, na sala de imprensa do Estádio Vail Chaves.
A decisão da juíza da 4ª Vara da Comarca de Mogi Mirim, entregue por um oficial de justiça antes da assembleia, determinou que os autores do pedido de liminar, João Bernardi, Geraldo Vicente Bertanha, o Gebê, e Hamilton Turola, poderiam participar da reunião. Ao mesmo tempo, a liminar determinou a suspensão da resolução que tratou sobre o processo de recadastramento dos associados, com os requisitos para comprovação da condição de sócios e as taxas incidentes, pois a juíza observou não constar uma decisão em assembleia sobre o recadastro. O pedido de liminar foi feito no bojo da ação que já havia pedido a suspensão do recadastramento, dentre outros pleitos, cuja sentença ainda não foi julgada. Anteriormente, a juíza havia negado a liminar para todos os pedidos feitos.
“A realização de nova assembleia nesta data, sem que supostos associados não recadastrados pudessem tomar parte dela, evidencia a existência de perigo de dano irreparável ou de difícil reparação”, diz trecho da decisão judicial de quinta-feira.
Desta forma, diversos associados esperavam poder participar, pois a diretoria argumentava que não estavam aptos para a assembleia os sócios que não fizeram o recadastro porque estariam irregulares. Com a suspensão do recadastro, caiu o impedimento para participação dos sócios, mas mesmo assim a diretoria os impediu de participar. Na área externa, pressionada, a oficial de justiça disse entender que todos têm direito a participar, mas não tinha autoridade para definir algo, já que sua função é apenas entregar a decisão judicial.
Entre os participantes que não integram o grupo de Luiz participaram somente João Bernardi, Antonio Rafael Assin, advogado da ação que obteve a liminar, e Betellen Ferreira, advogado e representante de Rivaldo Ferreira, sócio-benemérito do Mogi. Gebê e Turola foram autorizados a participar, mas não estavam presentes.
Entre os presentes estavam o ex-presidente do Conselho Deliberativo na Era Barros, Hélcio Luiz Adorno, o Luizinho, e o ex-assessor da presidência Cristiano Rocha, ligado ao empresário e ex-vice-presidente do Sapo, Victor Simões. No total, havia aproximadamente 20 pessoas, entre associados antigos e torcedores, incluindo membros do movimento SOS Mogi, que questiona o recadastramento. No entendimento do SOS, uma vez que o clube não tem um controle de quem são os sócios, todos devem ser considerados associados.
O POPULAR tentou ouvir Luiz, mas, via assessoria de comunicação, o presidente informou que não daria entrevistas.
Filho do presidente bate contra celular de torcedor
Inconformado ao se ver em meio a máquinas fotográficas e telefones celulares, o conselheiro deliberativo Diego Oliveira, filho do presidente Luiz Oliveira, intimidou membros da imprensa e bateu contra o celular do torcedor Rogério Manera, integrante do movimento SOS Mogi, lançando, por consequência, o aparelho ao chão. Em seguida à ação intempestiva, Oliveira correu para dentro do Estádio Vail Chaves, atrás dos seguranças, na área de estacionamento dos vestiários e sala de imprensa, onde foi realizada a assembleia geral, enquanto era provocado por Manera para voltar até a área externa. “Volta aqui palhaço. Vem cá rapaz. Sem vergonha”, disparou Manera.
Logo em seguida à ação de Oliveira, torcedores se revoltaram e deram chutes no portão, que havia acabado de ser fechado. O ex-gerente de futebol do Mogi, Henrique Stort, também estava revoltado e chutou o portão. “Bandidos, quadrilheiros, vocês vão ser presos”, disparou Stort.
Após deixar o local, Manera registrou boletim de ocorrência, apontando ter tomado um soco na boca de Diego, porém não pretendia realizar o exame indicado pela Polícia.
Ao final da movimentação, os vereadores Tiago Costa e Moacir Genuário, ambos do PMDB, foram até o estádio e conversaram com o grupo contrário a Luiz, que pediram apoio da Câmara Municipal para ajudarem o Mogi Mirim. Uma audiência pública deve ser realizada para abordar o clube.
Tumultos
Três viaturas da Polícia Militar estiveram presentes após a confusão. Anteriormente, na área da entrada principal do estádio, uma viatura já havia se apresentado no momento em que a oficial de justiça deixava o Vail Chaves, após ter apresentado a liminar para a diretoria. Na ocasião, associados brigavam pelo direito de participar da reunião. A advogada do Mogi, Roberta Pinheiro, ouviu argumentos de advogados como José Carlos Fernandes, do grupo SOS, referentes à decisão da juíza, mas não foi convencida sobre a liberação para sócios. Em determinado momento, torcedores, incluindo membros da Mancha Vermelha, se revoltaram com a postura do gerente de futebol Felipe Oliveira, filho de Luiz, que era taxativo em não permitir a participação de interessados e não queria deixar a advogada ouvir os argumentos, e proferiram provocações, cobrando, por exemplo, o pagamento de salários atrasados de funcionários. Stort também se manifestou disparando contra a diretoria.
Contas são aprovadas e sócios tentam impugnar
Na assembleia geral, as contas do exercício de 2016 foram aprovadas, com apenas os votos contrários de Rafael Assin, João Bernardi e Betellen Ferreira, que pretendia conversar com Rivaldo sobre o interesse em tomar alguma providência.
Agora, associados pretendem entrar na Justiça pedindo a impugnação da assembleia que aprovou as contas devido ao desrespeito à liminar, que permitia a participação de sócios devido à suspensão do recadastro.
Betellen revelou que, na assembleia, não foi redigida ata e nem apresentado o balanço patrimonial, apenas números. Foi declarado um prejuízo em 2016 de R$ 684.140,08, sendo R$ 5.113.254,09 de receitas e R$ 6.082.576,53 de despesas. O endividamento a longo prazo apresentado foi de R$ 11.663.705,69. Já o endividamento a curto prazo é de R$ 4.069.265,50.
Rafael e Betellen contaram que Luiz revelou a possibilidade de o Mogi não disputar a Série C do Brasileiro devido às dificuldades financeiras. A possibilidade foi confirmada pelo clube.