O abandono de um menino de dois anos, dentro de um carro, na madrugada do domingo de Páscoa, revoltou guardas municipais de Mogi Guaçu e moradores de toda a região. A mãe da criança – pelo testemunho de usuários de droga que estavam nas proximidades do local em que o carro estava – teria deixado o veículo para fazer ‘programa’.
Era por volta das 3h quando os guardas patrulhavam as imediações da Avenida Honório Orlando Martini, no Jardim São Pedro, em Mogi Guaçu. O local onde a criança foi deixada é deserto e escuro, e conhecido como ponto de venda e consumo de entorpecentes.
Em um primeiro momento, ninguém sabia que dentro do veículo havia uma criança. O que chamou a atenção dos guardas foi o fato do Fiat Uno, cor cinza, estar com os vidros abertos, parado na contra mão de direção.
Ao se aproximarem, contudo, os guardas se assustaram quando viram o menininho dormindo ao lado da mamadeira. O carro estava imundo, com ‘bitucas’ de cigarro e latas de cerveja vazias. “É inadmissível o que ela fez”, repetia o guarda Justino.
A mãe do menino – Cristina Aparecida Pereira, de 26 anos – deixou dentro do carro seus documentos pessoais e um caderninho da creche, com os dados da criança e telefones de contato dos avós.
O pai só apareceu no local uma hora e meia após os guardas terem feito o contato com familiares. Mas a criança, nesse momento, já estava sob a proteção do Conselho Tutelar. Desde sua retirada do carro até chegar à delegacia, o pequeno dormia tranquilamente no colo da conselheira, alheio a tudo que acontecia ao seu redor. Ainda dormindo ele chegou a chamar pela mãe.
Ao acordar foi para o colo do pai e dos familiares que lá apareceram. O caso foi registrado como abandono de incapaz com o agravante de ter ocorrido em local ermo.
Justificativa
O pai da criança, Richard Albuquerque Motzkus, de 47 anos, disse que vive com Cristina há oito anos e que ela saiu de casa com o filho, no sábado à tarde, para ir à casa dos pais dela, no bairro Santa Felicidade. Por lá, ela teria cerca de R$ 100 para receber pela venda de cosméticos. Porém, por volta das 21h, recebeu uma ligação do pai da jovem para confirmar se a mesma havia chegado. Mas, ela não tinha retornado para casa.
Um guarda municipal chegou a questionar Motzku se ele não ficou preocupado, e por que não foi atrás da esposa e do filho. Mas, o homem limitou-se a responder que estava sem combustível na moto para ir atrás de ambos.
Ele disse aos guardas que chegou a receber uma ligação de Cristina de madrugada, de um orelhão, dizendo que havia acabado o combustível do carro e que era para ele ir lá buscar o veículo, sem dizer que a criança havia ficado sozinha no veículo.
O amásio por fim disse que Cristina estava ‘limpa’ há seis meses, porém era usuária de entorpecentes. Ao ser pressionado por familiares de Cristina, ele confessou que ela já abandonou o menino outras vezes em busca de drogas.
Inclusive, uma das tias da criança – que compareceu à delegacia – disse que já tem a guarda da menina de seis anos, também filha do casal, devido ao abandono. Isso ocorreu depois que o casal deixou as crianças sozinhas em casa, no Jardim Cruzeiro. Na ocasião, houve um princípio de incêndio em uma cortina da casa e as crianças foram resgatadas pela avó paterna, pela janela. Revoltada, a irmã de Cristina perguntava ao cunhado até quando ele permitiria que essa situação continuasse.
Os familiares da própria Cristina disseram às autoridades que o casal não tem condições de criar as crianças e, embora, o menino tenha sido devolvido ao pai, o caso será acompanhado pela equipe técnica do Conselho Tutelar, CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social).
Na segunda-feira, Cristina Aparecida Pereira e o marido estiveram no Conselho Tutelar de Mogi Guaçu mas, por enquanto, não foram revelados os detalhes da conversa entre os pais do garotinho e as conselheiras de plantão.