Técnico do Mogi Mirim, o ex-ponta direita Maizena recorda o episódio do gol do título em uma final de turno do Catarinense da Segunda Divisão de 1990, diante do Laguna, quando defendeu o Inter de Lages, que acabou também campeão do Estadual.
Boteco – Como foi o gol do título?
Maizena – Tínhamos que ganhar no tempo normal por 2 a 0 e na prorrogação para ser campeão. Eu não era titular. O titular era o Zé Mello. Ele torceu o joelho. O único ponta-direita era eu. No fundo, falei: “Coitado”. Mas dentro do coração: “Graças a Deus, vou ter uma oportunidade”. Eu tava bem, só que tive um problema na joanete, no ossinho no dedão, o metatarso. Doía. Falei: “Professor, tô sentindo a joanete, doendo muito”. “Então, vou colocar o Catarina (lateral, não tinha ponta)”. “Não, professor, preciso treinar”. “Mas como? Olha sua joanete”. Coloquei meia, meti uma atadura e fui treinar descalço. “Tá louco, Maizena?”.
Boteco – Por que não entrava a chuteira?
Maizena – Não, doía, mas doía mesmo, de latejar. Aí, nego veio, ele falou: “Você é louco”. “Professor, não me deixa fora”. Ele me deixou fora, mas falou: “Você vai tratar, mas te dou minha palavra que você vai jogar”. Me deixou fora do coletivo, quinta e sexta. Daí, fomos concentrar, cuidaram de mim a noite toda, chamava parafina, antigamente, era negócio de vela, pingava e ficava dura, queimava, depois raspava de novo, tirava, era tratado com aquilo na época.
Boteco – Queimava tudo?
Maizena – Cê tá louco, rapaz. Aí foi cuidando de mim, eu dormia e acordava com a vela, com aquela coisa que pingava. Depois fui fazer um teste no sábado de manhã, mas doía, mas aguentei: “Professor, tô pronto”. Fomos pra final. Ele me escalou. Já me tranquilizei. O mais gostoso é que a gente veio pra carreata, o ônibus no meio, não sei quantos carros na frente e atrás e os caras soltando fogos de São Joaquim a Lages. Na hora que começou a chegar perto do estádio, ouvíamos aquele barulhão, lotado, chegou a torcida gritando, samba para todo lado e eu, nego veio, suava que nem doido. “Maizena, o que é isso aí?”. Bicho tá pegando. Aí fomos descendo, entramos para aquecer, olhamos a torcida, coisa mais gostosa do mundo, você arrepiava, nossa senhora.
Boteco – E aí você fez o gol da prorrogação?
Maizena – É (silêncio de emocionado)… (sussurro)… é de emocionar. Sobrou, Deus me deu o presente, o Branco não tocava para ninguém, soltou a perna, uma chuva, nego veio, à noite, na hora que bateu, a bola parou na poça d’água. Já cheguei de carrinho com tudo, só vi a torcida gritando: “É campeão”. Falei: “Agora acabou”. Inclusive tem um menino aqui, o Jonathan, que o pai dele foi mascote desse jogo, ele é de Lages, tá no Mogi. Ele comentou: “Maizena tá aí?”. Falaram que sou Rei de Lages, Rei é Deus, só fiz o gol.
Boteco – Como foi a festa da comemoração?
Maizena – Tomei “Danone” a noite toda. Aí o Zé Mello: “Pô, joguei o campeonato todo e você que apareceu nas páginas”. Até hoje, falo pros meninos: “Eu, com a camisa 13, fui campeão e fiz o gol do título. Então, todos são titulares.”
Boteco – Mais alguma curiosidade dessa conquista?
Maizena – O presidente queria me dar um terreno, eu não quis porque eu pensava que ele queria me roubar, sacanear.
Boteco – Ficou com medo de assinar alguma coisa?
Maizena – Isso, fiquei sem o terreno, brincadeira…
Boteco – Maizena volta para dizer como topou iniciar, no Paraguai, a carreira de técnico, que descartava, até então.