Por definição, o parlamento é lugar para a conversa, o debate, o confronto de ideias para o fim de gerar ou votar leis de interesse da população. É por ele que se expressa, portanto, o Poder Legislativo, um dos sustentáculos do tripé formado com o Executivo e o Judiciário.
Deveria ser, portanto, a casa representativa da sociedade e em nome desta se expressar. Mas, não é bem isso. Melhor dizendo, não é nada disso. Seu interior já foi palco de tiros e até de morte.
Comparativamente com esses episódios, as grosserias trocadas entre o senador Renan Calheiros e o deputado Mendonça Filho, esta semana, podem ser reduzidas a um inconsequente bate-boca de ginasianos.
Para estes ou quaisquer outros tempos, foram cenas deploráveis, deseducadoras, capazes de aprofundar ainda mais o poço em que a instituição está mergulhada.
Em tal circunstância, cabe dar uma olhada no que é o padrão de comportamento dos políticos nacionais na casa em que, ao menos em tese, falam pelo povo.
Não é preciso ser muito atento para perceber que a Câmara dos Deputados e o Senado se transformaram em ambientes nos quais prevalece a esperteza e a malandragem. Pode mais quem fala mais alto, se dá bem quem é mais capaz de ludibriar o adversário.
É do jogo político? Claro que sim, pela natureza das casas e pela natureza da política. Ocorre é que foi longe demais esse exercício malandro do mandato.
Ou na verdade isto apenas representaria a reprodução da própria índole nacional, definida na velha filosofia gersiana de que o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo?
Nos últimos dias, ante a avalanche de escândalos que a mídia vomita diariamente na sala de estar das famílias brasileiras, têm surgido algumas brincadeiras a desafiar a quem não teria tentado um dia engambelar um guarda de trânsito ou furar uma fila no banco?
Aliás, abrindo aqui um vácuo, essa coisa me faz lembrar de quando ouvi de um colega o seguinte: o Papa, ao tropeçar o dedão do pé em uma pedra, não reagiria com um p.q.p? Em outras palavras, é difícil que não tenha atirado a sua pedra.
Então, voltando ao leito da estrada, a conduta pouco escorreita daqueles que falam por nós não poderia fazer parte dos hábitos e costumes aqui da planície? Mesmo porque, como Carlos Nelson me disse há bons anos, ainda quando ele era deputado federal, ninguém chega ao Congresso ungido por D. Paulo Evaristo Arns, mas consagrado pelo voto popular.
Essas condutas dos parlamentares só não são mais deletéreas social e culturalmente porque a grande, a estrondosa maioria dos brasileiros dá as costas ao Parlamento, ignora seus representantes solenemente, não vê, não assiste e tem raiva de quem vê e assiste o que eles fazem em Brasília.
Só por esta razão é que as ‘lições’ de Suas Excelências causam menos estragos aqui baixo. Porque, fosse de outro modo, forneceriam forte munição para a erosão moral dos cidadãos, convencidos de que, se pode lá, por que não ser malandro cá?
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR.