Ora, amigos, vamos falar a verdade: precisamos festejar os (letras maiúsculas, por favor) Ladrões de Galinhas. Com a institucionalização das bandalheiras que tomaram conta deste país nos últimos dez anos, os simpáticos meliantes que nos dias d’antanho frequentavam quintais em busca de gordas penosas, acabaram por se tornar símbolos. Exatamente do bom, do honesto, do limpo, do saudável, do indispensável. Ou será que você nunca escutou alguém a bradar fundas saudades dos maravilhosos tempos em que, no Brasil, ladrões eram apenas os afanadores de poedeiras?
Exclamações feitas ao se constatar, como se constata hoje em dia, o quanto lobistas, cupinchas, mensaleiros, ministros, prefeitos, mulheres de prefeitos, parlamentares, cumpañeros, enfim, é que comandam a roubalheira absolutamente desenfreada que cria fortunas imensas do dia para noite. Como a do rapaz que dormiu como limpador de bosta de quadrúpedes no Zoológico e acordou dono de dinheirama digna da “Forbes”.
Lembro agora que, certa manhã de Primavera eu passeava por uma praça de Florença, Itália, quando vi belíssima estátua de mulher cercada de flores. Impressionado com a singeleza do monumento, perguntei a um carabinieri quem era a homenageada.
– Na verdade – ele explicou – não se trata de alguém especificamente; é celebração à Virtude.
Lembro disso agora pois vou me atrever a fazer sugestão às autoridades dos poderes constituídos de nossa cidade: por que não erguer, em algum lugar público, bela estátua em homenagem a este símbolo da pureza, da virtude que os anos de PT fizeram aflorar, os Ladrões de Galinhas?
Ora, amigos, aí está algo justíssimo que, tenho certeza, contará com apoio maciço da população; ou, pelo menos, da parte dela que pensa. Ocorre-me que esta singela celebração ao que de mais puro existe atualmente em nossas saudades, poderia ser erguida no meio do largo do Rosário. Afinal lá não somente há espaço de sobra, como se trata do sítio que costuma receber as manifestações do que conta para o povo.
Visualizo, esculpida em bronze por algum tardio discípulo de Auguste Rodin, a figura de um homem de compleição franzina curvado ao peso das cacarejantes aves, uma em cada mão; sob o braço, robusto capão. Aos pés da formidável criatura placa com letras, também em bronze: “Aos Ladrões de Galinhas, este súbito símbolo da pureza que os anos de PT devolveram ao Brasil, a homenagem do povo campineiro”…
De outro lado quero lembrar que, faz alguns anos, escrevi crônica neste mesmo espaço a exalar a grande admiração que passei a nutrir pelos lunfas que se apropriavam das poedeiras do próximo. Dizia, então, que pretendia colocar no meu quintal, que não é grande mas tem espaço, pelos menos seis penosas. Não para criá-las com a finalidade de depois vê-las em fumegantes panelas, quem sabe a borbulhar num mineiro molho pleno de maxixes e quiabos.
Sim para esperar que, em alguma solitária madrugada pintasse, a pular sorrateiramente o muro, um formidável Ladrão de Galinhas. Tivesse eu essa ventura, pretendia me atirar, provavelmente em lagrimas, aos pés do santo homem após apertar suas calejadas mãos de trabalhador honesto.
Na época, lamentavelmente, não consegui realizar o intento em virtude de viagens que se acumularam em minha agenda. Mas agora, novamente, sinto que chegou o momento. Já encomendei ao empresário Pedro Porto que, em sua bela chácara de Mococa possui criação de galináceos das exclusivíssimas raças inglesas Dorkings e Redcaps, que me forneça algumas de tais seletas espécies.
Afinal, quero oferecer ao honrado meliante o que há de melhor no mundo. Como tudo isto estará devidamente equacionado na próxima semana, já me vejo posto na espera. Rezando para que o quase extinto amigo-do-alheio apareça. Para que me jogue, de joelhos, à sua frente.
– Meu bravo brasileiro – bradarei — meu honesto, meu santo cidadão, permita-me cumprimentá-lo pela sua meritória lida de roubar galinhas! Você é no Brasil de hoje o melhor símbolo da pureza, do trabalhador que ganha dinheiro com o suor do rosto, tão diferente do que passou a acontecer nas altas esferas políticas, de 2003 para cá. Receba minha reverente admiração. Como não sou merecedor de beijar suas mãos, deixe que oscule seus pés.
Trêmulo, me curvarei para isso. Naufrago ante a honradez do cidadão que não tem nada a ver com dirceus, lulas e genoinos…
Antônio Contente é jornalista e escritor