sábado, novembro 23, 2024
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Márcio lembra final nacional de 1990 e aborda farras

No último capítulo de suas histórias no Boteco, Márcio Bittencourt recorda a conquista do Brasileiro de 90 pelo Corinthians e lembra os tempos de farra quando jovem.

Boteco – Você jogou no Corinthians campeão em 90 em que o Neto se sobressaía, quando o clube nunca havia vencido o Brasileiro. Depois foi técnico do time com várias estrelas, em 2005, quando a equipe também foi campeã do Nacional. Qual paralelo você faz?

Márcio – Em 90, era diferente, eram nove jogadores em função de um craque, o Neto decidiu a maioria das partidas. Era uma equipe que no começo, muitos não acreditavam, era muito forte dentro do vestiário. Amizade muito grande. E aí o Neto numa fase fantástica, tivemos um grande sucesso, mesmo assim quando a gente chegou nas quartas de final, ainda foi desacreditado. Depois na final pegou um São Paulo, que era um time fantástico e atropelou.

Boteco – Como era marcar o Raí?

Márcio – Não podia deixar ele jogar, Raí era habilidoso, então marcava ele bem em cima. Não podia deixar nem jogar, não podia dar meio metro de espaço que ele definia o jogo

Boteco – Tinha provocação?

Márcio – Eu lembro que ele sempre falava (risos): “Pô, Márcio, você é um cara tão gente boa fora de campo, mas em campo, é tão ruim. Você não conversa, chega o pau, bate, parece que vira um bicho”. Faz parte, né? Ali para mim era um prato de comida. E tinha que encarar, trabalho, seriedade. Nunca fui de dar muito risada quando eu jogava.

Boteco – Lembra de história de concentração naquela época?

Márcio – O Ezequiel só tomava Fanta. Só Fanta. Aí um dia o doutor chegou: “Que tanto o Ezequiel toma Fanta? Todo mundo toma Coca-Cola”. Aí o Doutor Joaquim chegou, pegou e foi beber. Era Fanta com pinga. Era hi-fi (risos). Ele: “não, pelo amor de Deus, doutor, não bebe isso não”. “Mas por que você bebe só Fanta?”. O Ezequiel era engraçado demais, era um cara bacana, só aprontava, mas um belo profissional.

Boteco – E você, chegou a ter uma fase de aprontar?

Márcio – Aprontar é da idade, quando a gente é jovem, a gente namora, farra, bagunça.

Boteco – Chega a dar uma deslumbrada?

Márcio – Ah, deslumbra. Eu vim muito cedo pro Corinthians, com 16 anos, carro bonito, deslumbra….

Boteco – Muda tudo?

Márcio – Muda, você sai do interior, vem para São Paulo. Eu fiquei um tempo na base, depois já subi. Você tem Geraldão, Casagrande, Sócrates, esses caras como ídolo, e depois está sentado do lado deles trocando de roupa. É um choque. Você sai do interior, caipira da roça, daqui a pouco está no Corinthians, ganhando bem. Carro bonito, mulher bonita, feio, com essa latinha feia, mas jogando no Corinthians, não tinha como. Tem uma fase que você vive a vida.

Boteco – Alguma história marcante nessa época?

Márcio – Fazia muita festa, quando não estava treinando ou jogando, era só festa. Tinha muita namorada, muita bagunça.

Boteco – Com tanta experiência com estrelas, malandros, quando você virou técnico, ficou difícil te enganar?

Márcio – Não engana, eles acham que engana, a gente às vezes passa por cima para não criar problema, mas enganar não engana. A gente já esteve lá do outro lado, mesma idade, já contamos as mesmas mentiras, já cabulou treino, já deixou de treinar um pouco, então a gente sabe tudo. Tem hora que você faz vista grossa para não dizer “você está me enganando”. Mas você sabe de toda a realidade. É muito bom, mas tudo na vida passa. Depois a gente casa, os filhos crescem, a cabeça da gente muda muito.

Boteco – Valeu, Márcio!

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