No último capítulo de suas histórias no Boteco, o ex-massagista de times como Guarani e Novorizontino, Antonio Carlos da Silva, o Toninho, comenta curiosidades da profissão e relembra a única expulsão na carreira.
Boteco – Você chegava a fazer alguma cera?
Toninho – Quem entra em campo é o médico, desde aquela época o massagista é proibido, mas dentro do possível a gente procurava fazer uma cerinha. Às vezes invadia, tomava dura do juiz. Naquela época, a juizada quase não expulsava. A gente fingia que o jogador precisava de atendimento.
Boteco – Como o massagista do clube é visto nas cidades?
Toninho – Às vezes as pessoas que têm problema procuram o massagista do clube. Se a diretoria autorizar, aí atendo no clube mesmo. A gente sempre é procurado.
Boteco – Os jogadores desabafam?
Toninho – Às vezes chegam reclamando do preparador físico, do treinador. Mas a gente escuta e fica quieto. Se leva ali, vira fofoca, aí já não dá certo.
Boteco – Qual a grande dificuldade da profissão?
Toninho – A grande dificuldade é às vezes não ter condições de trabalhar, material. Isso de vez em quando acontece em alguns times, tem que fazer milagre. No Barbarense era complicado. Faltava galão de Gatorade, ia comprar, não achava, Gatorade só entregava para quem tinha contrato.
Boteco – Alguma vez você perdeu a cabeça em jogos?
Toninho – A gente procura manter a tranquilidade, mas teve um jogo contra o Internacional, no Brinco de Ouro. A gente estava ganhando de 3 a 0. Um bandeirinha invocou comigo sem eu fazer nada, mostrou o dedo, eu apelei, fui expulso. Xinguei. Peguei 20 dias de suspensão, perdi um jogo contra o Santos e um Derby. A única expulsão que eu tive foi essa, em 37 anos de bola.
Boteco – Vocês conversavam com atletas quanto a doping?
Toninho – É complicado, porque os atletas não podem usar quase nada. Tem uma gripe, não pode usar remédio que tem tal medicamento na fórmula, então você tem que padronizar e falar. E todo o ano vem a revistinha do doping da Federação, sempre alguma coisa eles mudam.
Boteco – Algum episódio que te marcou?
Toninho – No Novorizontino, o jogador sabia que não podia tomar Naldecon e tomou. Não foi pro jogo. Ele avisou, tomei Naldecon, porque estava dopado. Ficou fora.
Boteco – Algum caso em relação à cerveja no antidoping (para ajudar o jogador a urinar no momento do exame)?
Toninho – Hoje é proibido, antes era liberado. Hoje é água mineral em garrafa. Em copo plástico ou garrafa plástica não pode. E Coca-Cola. Cerveja é diurético, o jogador já perde líquido, alguns perdem quatro quilos no jogo. Se tomar cerveja, vai perder mais líquido. Não é aconselhável.
Boteco – Mas você pegou a época da cerveja?
Toninho – Peguei, tinha jogador que saía 2 da manhã. Enquanto tinha cerveja, não conseguia mijar. Acabava, mijava.
Boteco – Valeu, Toninho!