Persistência e cobrança dos alunos com os professores de Educação Física. Estes foram alguns dos conselhos apresentados por medalhistas de bronze na prova de revezamento 4×100 do atletismo feminino dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, que comandaram atividades com estudantes no Ginásio Wilson Fernandes de Barros, o Tucurão, na quarta-feira. As atletas Lucimar Moura, Rosemar Coelho Neto e Thaissa Presti estavam acompanhadas do profissional de Educação Física, Mário Leme. As medalhistas falaram a respeito de suas vivências e responderam questionamentos do público. Entre os temas esteve a importância do esporte para a transformação de vidas. Estiveram presentes aproximadamente 250 alunos de escolas municipais, estaduais e particulares, além de crianças de entidades assistenciais.
Em entrevista à reportagem de O Popular, Thaissa observou que a atividade física é positiva como qualidade de vida, mas se a criança tem o desejo de seguir carreira, não pode desistir. “O segredo é se motivar a cada dia e nunca desistir. Foi o que eu fiz, em vários momentos eu tive vontade de desistir, mas o desejo de ganhar uma medalha sempre me segurou”, observou, lamentando que o Brasil tem como um dos maiores problemas gerar patrocínios apenas para atletas que já atingiram resultados.
Roseane também aconselhou às crianças que sonham com o atletismo a terem persistência e foco. “Esses são os caminhos que têm que existir dentro de um atleta, com que conseguimos chegar a um Jogos Olímpicos e ser medalhistas”, afirmou.
Já para Lucimar, as crianças devem cobrar os professores. “Cobrem, corram atrás, busquem um objetivo na vida. Isto também é do professor, levar o esporte ao atleta, lapidar, descobrir talentos. Brasil tem muitos atletas escondidos ainda”, aponta.
Lucimar citou seu caso, como das demais medalhistas, para valorizar a importância da escola. “Através da escola fui participar de uma competição no clube Usipa (em Ipatinga), onde me revelei e, correndo descalça, ganhei da menina que treinava. Aí o clube imediatamente me chamou para treinar. Então foi essa descoberta, através da escola, eu entrei no clube e pratiquei o atletismo”, frisou.
O evento foi promovido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), com apoio do Sincomércio Mogi Mirim e da Prefeitura, servindo como uma espécie de divulgação do Dia do Desafio, marcado para 31 de maio.
Estudantes participam de atividades, após conversas
Depois das conversas no Ginásio do Tucurão, as medalhistas desenvolveram atividades com as crianças. Além das corridas, foi apresentada, a importância de saber executar a passagem do bastão nas provas de revezamento, já que se o objeto cair, todos estão eliminados.
Pela manhã, as medalhistas já haviam discursado para professores de Educação Física e esportistas, na sede do Sincomércio. Cada atleta contou um pouco de sua história, antes de um debate com os participantes. Na discussão, foi abordada a importância de se trabalhar não apenas os alunos, mas também os professores de Educação Física.
Um ponto é o fato de muitos professores se acomodarem com as limitações e não trabalharem o atletismo, que pode ser desenvolvido com criatividade se houver interesse e boa vontade, mesmo com uma estrutura abaixo da ideal. No final, as atletas posaram para fotos com as medalhas olímpicas.
Medalhistas
Descoberta por um professor em Miracatu-SP e convidada a integrar uma equipe de Cubatão, Rosemar Coelho Neto, de 40 anos, participou dos Jogos Olímpicos de Atenas e Pequim. Foi tricampeã do Troféu Brasil. Curiosamente, é casada com o neto de Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico de salto triplo nas Olímpiadas de Helsinque, na Finlândia, em 1952, e Melbourne, na Austrália, em 1956. Rosemar é mãe de Valentina, bisneta de Adhemar. A garota tem o privilégio de ter três ouros na família.
Já Thaíssa Presti, de 31 anos, natural de São Paulo, é filha do ex-jogador do São Paulo e seleção, Zé Sérgio. Ainda criança, começou a correr no Japão, onde o pai jogava, mas foi começar mesmo no atletismo em Valinhos, descoberta por um professor que apostou em seu talento. No currículo, coleciona duas conquistas de Troféu Brasil.
Já Lucimar Moura, de 43 anos, começou no atletismo depois de orientação de uma professora de Educação Física de Timóteo-MG. Ela carrega no currículo a prata nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1999. Além do bronze em Pequim, já havia disputado os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Lucimar tem ainda na bagagem o heptacampeonato do Troféu Brasil e os feitos de ter batido os recordes sul-americanos das provas de 100 metros, 200 metros e 4×100 metros, na Colômbia.
Bronze dos Jogos 2008 foi garantido apenas em 2016
As medalhas de bronze apresentadas em Mogi Mirim foram conquistadas de forma inesperada. Curiosamente, a conquista no revezamento dos Jogos Olímpicos de Pequim, de 2008, pelas atletas Lucimar Moura, Rosemar Coelho Neto, Rosângela Santos e Thaissa Presti foi concretizada no ano passado.
A conquista chegou oito anos depois em função da punição imposta à Rússia, que havia faturado ouro. A medalha garantida em 2016, não festejada em Pequim, foi entregue na cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico, em março de 2017, no Rio de Janeiro.
A punição à Rússia foi imposta devido à atleta Yulia Chermoshanskaya, integrante da equipe de revezamento, ter sido flagrada por doping no programa de reexame de amostras. A Bélgica, que havia sido prata, herdou o ouro. A terceira colocada Nigéria ficou com a prata e o quarto, Brasil, com o bronze.
Esta foi a primeira medalha olímpica brasileira da história do revezamento feminino.