No terceiro capítulo de suas histórias, o ex-médico do Mogi Mirim, Alexandre Carvalhal, recorda uma inusitada cura de um lateral e o afastamento do centroavante Zulu, em 2010.
Boteco – Como foi caso do problema no coração do Zulu?
Alexandre – O Zulu me deu dor de cabeça. Na pré-temporada, a gente pega os atletas e faz toda avaliação cardiológica, laboratorial e clínica. E teve uma alteração com o cardiologista nosso, a gente resolveu mandar ele pro Incor. No Incor, um médico disse que ele não podia andar até a esquina que tinha risco de morrer. Ia estar em acompanhamento com o Incor, falei: “Zulu, é o seguinte, não dá, você vai ficar em repouso, vai pra casa, vamos tratando”.
Boteco – E ele ficou bravo?
Alexandre – Ficou, porque queria jogar e achava que tava bem: “Não tenho nada, doutor”. E realmente, conversando…
Boteco – Até então, ele não tinha nada?
Alexandre – Nada, clínica nenhuma, tinha falta de ar. Mas era o esforço e vinha com uma dispneia, até então normal. Aí eu adiantei um retorno e o chefe de serviço do Incor falou: “Calma, não é nada disso, ele pode jogar”. E veio com outro laudo, de autorização para ele praticar esporte. Aí nessa, a gente já fica esperto, você fala puta merda. E agora?
Boteco – Faz um terceiro?
Alexandre – Não, eu confiei nele porque era um serviço de ponta e um cardiologista que vê atletas. Foi o chefe do que me falou, esse que ia dar a martelada final, passei pra comissão, pro presidente a situação e o que eu achava. Se ele veio com um diagnóstico de lá que tudo bem, apto, que tem uma alteração fisiológica, vamos jogar. Só que nessa, contra a Portuguesa, o Francisco Diá, técnico, me põe esse Zulu de volante, não sei o que aconteceu, um foi expulso, não sei o quê, ele vai. Aí falei: “Oh, Diá, você quer me matar cara, deixa o Zulu lá na frente, na banheira quieto”. E o Zulu correndo de um lado pro outro e o Diá ria. Depois eu e o Francisco Diá, a gente rachava o bico: “É, doutor, queria te matar mesmo”. Foi uma situação tensa. No ônibus, a gente voltando, ele (Zulu) tava sentado lá atrás, veio: “eu tô passando meio mal do ar-condicionado”.
Boteco – Brincando?
Alexandre – Brincando, ele foi tocar violão lá na frente. Ele tava enchendo o saco, mas mesmo assim, era um atleta que a gente ficava sempre de olho. Era um bom jogador, um bom atleta com a gente e um cara muito bom também. A maioria dos atletas tem uma alteração fisiológica cardíaca, o coração é um músculo, o coração deles é diferente do nosso, muito mais forte. Se torna diferente, atleta tem alterações, fisiológicas, não é patológico. Teve uma galera que nos preocupava, tive um lateral não me recordo o nome. Esse lateral veio parar no DM e não sai. Com uma lesão muscular, dor no corpo, eu virei esse cara do avesso.
Boteco – Mas ele tinha alguma coisa mesmo?
Alexandre – Clinicamente não, nem em exame. Daí, de repente, esse cara some, ele tinha um rastafári grande na época, era negro, ele me volta depois de uns 2, 3 dias, com a cabeça raspada e fala: “Doutor, tô curado”. Falei: “Poxa, o que aconteceu, cara, era o cabelo?” (risos). “Não, doutor, fui numa igreja e me limparam lá, tô curado”. E realmente o cara voltou e não sentiu mais nada. Coisas do futebol.
Boteco – Alexandre volta, no último capítulo de seu bate-papo, para recordar histórias curiosas com treinadores.