Passar pela Rua Coronel Guedes, no Centro, e não lembrar do antigo Mercado Municipal, o popular Mercadão, é quase impossível. Prédio histórico que por muitos anos abrigou um dos pontos comerciais mais tradicionais de Mogi Mirim, hoje existe apenas na lembrança de inúmeros comerciantes e munícipes. Junto dos 140 anos de história do Mercadão, iniciado em 1870 e encerrado de forma definitiva em 2010, foram enterrados momentos inesquecíveis, que aliavam o prazer em comer um pastel e tomar um refrigerante de garrafa, a comprar uma mercadoria, ou simplesmente dar uma volta, naquele que já foi considerado por muitos uma das opções de lazer preferidas dos mogimirianos.
Quatro anos depois, o fechamento do Mercadão não foi bem digerido por boa parte da população, que viu o mercado baixar as portas na gestão do ex-prefeito Carlos Nelson Bueno. Antes, sob a administração de Paulo de Oliveira e Silva, o Mercadão chegou a permanecer fechado para reformas, enquanto os comerciantes foram deslocados para outro imóvel. No retorno, a desvalorização bem como a desconfiança do consumidor serviram como motivos para a queda do mercado. Anos depois e já em fase derradeira, o mercado foi fechado após uma série de conflitos entre a Prefeitura e os comerciantes. Em seu lugar foi criado a Brinquedoteca Municipal, com investimento perto de R$ 1,5 mi e que recebe visitas diárias de crianças de escolas municipais e particulares.
“Era um mundo aquilo ali, a vida de muita gente. Não foi fácil, fui um dos últimos a sair. Já chorei muito por aquilo”, relembra, com a voz embargada, Pedro Suzigan, um dos comerciantes mais antigos do Mercadão, com 46 anos de comércio.
Ao lado do filho, o representante comercial Hilton José Suzigan, mantinha um box de secos e molhados, onde era possível encontrar desde sardinha e bacalhau, até artigos de pesca e camping. “O Mercadão foi minha infância, minha vida, só comecei a representar graças ao mercado, lá aprendi lidar com as pessoas, seja rico ou pobre”, disse Hilton.
O Mercadão era formado por inúmeros boxes e bancas, divididas em dois andares, onde cada comerciante pagava um aluguel à Prefeitura. Por 44 anos, Therezinha da Costa Moraes manteve um ponto de comércio de roupas e calçados no Mercadão, que agora existe bem em frente ao prédio. “Era como se fosse uma família, o nosso sustento. Ali você conhecia as pessoas, um lugar marcado pela simplicidade, onde todos iam para conversar”, comentou.
Após 18 anos dentro do Mercadão, André Luiz Grava, proprietário da Lírio dos Vales, afirma que a falta de estrutura aliada à queda de movimento contribuíram para o fechamento. Ele recorda com carinho os bons momentos. “Foi onde ingressei no comércio, aprendi quase tudo ali, a ter respeito, a trabalhar, conheci muita gente boa”, relembrou.
Aprendizado
Zélia Maria Bordignon dos Santos, uma das proprietárias da Fran Real, que mantinha um box no Mercadão, destaca que aprendeu a trabalhar no local. “Conheci o que era beterraba e berinjela pelo meu avô, que vinha fazer compra no Mercadão. Até hoje faço uma referência que aqui (Fran Real) é na rua do Mercadão”.
“Aquilo foi um marco, se a Siqueira Variedades está de pé é que teve grande participação do Mercadão. Lá aprendi a lidar com a concorrência. Se tivesse outra vez, iria tentar ter outro box”, contou, orgulhoso, o comerciante José Antonio Siqueira.
Lamentação
Conhecedores profundos da história de Mogi Mirim, os historiadores Tóride Sebastião Celegatti e Nelson Patelli Filho até hoje lamentam o fim do Mercadão. “Era um centro de comércio, de movimento, o ponto de reunião do agricultor, do povo. Tudo que você procurava, achava”, contou Tóride.
“Reunia todas as classes sociais, coronéis, barões, lavradores, agricultores. Faz uma falta enorme, era uma coisa popularíssima e tradicionalíssima”, explicou Patelli.
Comércio cai no esquecimento
Com o fim do Mercadão, o movimento à Rua Coronel Guedes só cai ao longo dos anos. Para vários comerciantes, o local está esquecido pela Administração Municipal. A criação da Brinquedoteca, projeto que não atrai a atenção na rua, é apontada como uma das razões. “Se não fosse a lotérica, estaria até pior, é uma rua esquecida. Tinha que voltar o Mercadão, alugar os boxes e levar coisas mais atrativas, como um empório e uma praça de alimentação”, opinou Andréia Cristina Costa, sócia-proprietária da Casa Bazan.