Dia desses estava na cozinha e meu filho veio me abraçar. Ele tem 14 anos e é bem mais alto que eu – 1,66 x 1,89. Meu marido ficou pensativo vendo aquela cena e disparou: “Como é a sensação de abraçar alguém que era tão pequeno e hoje não cabe mais no seu colo?” Um rodamoinho invadiu meus pensamentos e dei um giro de 360 graus em um monte de sentimentos que o “não caber no colo” me remetem! São tantas coisas!
Talvez seja o momento em que mais fortemente ecoe o sentimento da eminência do distanciamento físico. Aquela representação de que as crianças cresceram e estão com as asas cada vez maiores para sobrevoar pelo mundo enquanto nós ficamos daqui atracados – não por falta de opção – mas por querer ser o porto cada vez que precisarem decolar para recuperar suas forças.
Há pouco tempo, parte da psicologia defendia que o colo tornava as pessoas dependentes e fracas. Ainda bem que este conceito foi revisto. A base de qualquer ser inteiro, autônomo, é o amor, certamente. Quando nos sentimos amados temos força para ser quem somos e assim assumimos nosso papel no mundo!
Me lembro de ser colo quando caíam, quando estavam doentes na sala de espera de médicos, quando desciam do palco depois das apresentações da escola, mas, se fosse hoje, se voltasse no tempo, deixaria eles aninhados em mim por mais tempo!
Na verdade, agora sou eu quem me encaixo neles e, cada vez que isso acontece, fecho meus olhos, percebo o cheiro do momento, a textura da pele, o barulho do coração batendo… Agradeço e guardo essa memória na caixinha das especiais, aquela que dá sustento à vida quando tudo parece difícil. E, não seria este também o motivo pelo qual uma criança busca um colo?
Bárbara Andrade é empresária, formada em Jornalismo, pós-graduanda em Psicologia e Coach, foi vice-presidente da Associação Civil Sanquim até 2019 e professora voluntária de Redação.