O abismo no qual o Mogi Mirim Esporte Clube foi atirado ceifou de nós a rotina de notícias sobre a agremiação. E, quando elas aparecem, são negativas. É o reflexo de anos de gestões que mesclaram incompetência para tornar o Sapo autossuficiente e competência para destruir um patrimônio centenário.
E é irônico que o clube que teve como primeiro presidente um promotor público não tenha o respaldo do Ministério Público para conhecer a sua nua realidade.
É incompreensível que uma agremiação que foi estruturada em alto nível, sobretudo a partir de 1981, com o ingresso do notório Wilson Fernandes de Barros na presidência, tenha descido dos degraus mais altos do futebol paulista e brasileiro para o limbo, chegando a quase três anos fora do profissionalismo, além de ter se tornado sinônimo de calotes, seja a fornecedores, autarquias e, sobretudo, a funcionários.
É por este caos criado em tão pouco tempo que fica aqui a clemência para que o Ministério Público tire as pulgas que estão atrás das orelhas de quem sempre amou o Sapão. O argumento já ouvido de alguns membros do MP, de que não se pode vasculhar a situação do clube por se tratar de entidade privada, cai por terra quando assistimos a atuação pertinente do correspondente mineiro da promotoria pública.
Por lá, o MPMG não quis saber de apenas assistir a situação delicada do Cruzeiro. Investigou e, na última semana, lançou em suas redes sociais. “A denúncia narra crimes de lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsidade ideológica e formação de organização criminosa. Cabe agora à Justiça prosseguir com a ação penal. O MPMG espera que todos os denunciados sejam condenados”.
Juridicamente, Cruzeiro e Mogi são idênticos. E por que lá há investigação e aqui mãos lavadas? Esperamos que os atuais promotores não compactuem do pensamento anterior e cumpram o papel de zelar por este patrimônio fundamental para os mogimirianos que é o centenário MMEC.
E antes que haja chilique por parte de quem está com a caneta. Ninguém aqui está dizendo que o que rolou em BH está a acontecer em Mogi. Mas a queda vertiginosa do aspecto desportivo e o caos administrativo permitem as dúvidas. E, se não devem, que não temam. Pelo contrário, que abram as portas para quebras de sigilo bancário e telefônico até para auditorias. Oras, desde 2016, não há sequer prestação de contas, desrespeitando a Lei Pelé. A lei. Desrespeitam a lei. Como não ficar com dúvidas, caros promotores.
Pela memória de Arthur Pinto Lima, o primeiro presidente do Mogi Mirim EC, promotor público de vasta atuação e, à época, em outubro de 1903, titular desta função aqui em nossa cidade, que o atual Ministério Público atenda ao clamor dos mogimirianos e nos faça entender o que aconteceu com este nosso bem tão precioso. Não repitam Pôncio Pilatos diante da crucificação pelo qual o nosso clube está a passar. Sejam protagonistas da salvação do Sapão.