O ex-goleiro Moacir Genuário, o Cachorrão, hoje vereador, conta quando sofreu uma tentativa de suborno e ajudou a armar a prisão de um dirigente da Portuguesa. Moacir havia deixado a Lusa de forma conturbada dois anos antes e defendia o Comercial-SP.
Boteco – Como foi a polêmica com a Portuguesa?
Moacir – A Portuguesa era praticamente campeã do primeiro turno. E de repente o Santos… o Serginho Chulapa começou a fazer gol de tudo quanto é jeito, e a Portuguesa começou a perder. Chegou na última rodada, a Portuguesa tinha que ganhar do Comercial. Se perdesse e o Santos ganhasse do Botafogo, o Santos seria campeão do primeiro turno. Eles começaram a me ligar: “vamos trocar o jogo. Deixa a gente ganhar, a gente deixa vocês ganharem no segundo”. Eu passei tudo pro presidente do Comercial. E falei pro pessoal da Portuguesa: “não é comigo que você tem que falar, é com o presidente. Se depender de mim, nós vamos ganhar”. Eles viram que não tinham acordo: “Moacir, nós liberamos seu Fundo de Garantia, e te damos…”. Resumindo, ia me dar uns 400 mil dólares. Mandei prender os caras, prenderam. Por tentativa de suborno. Chegou numa sexta-feira, eu estava indo no banco, um cara me fechou. “Preciso falar com você”.
Boteco – Era da Portuguesa?
Moacir – Era. Eu falei: “você sabe onde eu moro?”. Ele: “sei”. Então me espera lá. Eu falei pro Luiz Alberto, do Comercial: “me leva no escritório do presidente”. E falei: “tá acontecendo isso, eu quero que prende o cara”. Fomos no advogado do Comercial, fomos na delegacia, armamos tudo com o delegado. O delegado falou: “tem jeito da gente entrar na sua casa sem ele ver”? O cara já tava me esperando. E o delegado: “nós vamos gravar toda a conversa. Você tem que fazer o cara te dar o cheque pra gente pegar ele na hora”. Eu liguei pra minha ex-esposa: “deixa a porta aberta, pega o meu filho e sai”. Os caras entraram pela frente e ficaram gravando. Ele não viu. Aí eu falei: “tudo bem. Então me dá o cheque”. Aí ele: “preciso ligar pro presidente”. Eles ofereceram a liberação do meu FGTS, mais R$ 400 mil.
Boteco – O cara era dirigente da Portuguesa?
Moacir – Dirigente, eu tenho jornais guardados. Eu falei: “Olha, eu não tenho telefone, tem orelhão aqui”. Quando ele saiu, o vizinho falou: “cuidado que tá cheio de polícia aí na casa do Moacir”. O cara entrou no carro e ia fugir. Aí os investigadores prenderam ele. Não deu nada porque não teve como comprovar que foi suborno, porque ele não me deu o cheque. Mas o cara ficou preso, mas depois soltou.
Boteco – Foi um escândalo na época?
Moacir – O Datena era repórter. Ele aparecia de capa preta, com mala. Aí chegou no jogo, os caras ligando: “avisa o Moacir que vamos entrar armado, vamos dar um tiro nele”.
Boteco – E você ficou preocupado?
Moacir – Eu nem… E o pessoal me perguntava. “E aí Moacir, você quer jogar? Você que sabe, se não quiser, não joga”. “Vou jogar”. Ganhamos de 3 a 0, o que eu não peguei, batia na trave. E o Botafogo perdeu pro Santos, o Santos foi campeão. Quando eu fui jogar no segundo turno contra a Portuguesa, quando eu entrei em campo, o estádio inteirinho em pé: “f.d.p., f.d.p.”. Foi eu que falei: eles tinham obrigação de me conhecer porque eu joguei 9 anos na Portuguesa, nunca fiz isso na Portuguesa. E a imprensa de Ribeirão: “Moacir nunca vai ganhar isso na vida, 400 mil”.
Boteco – Moacir Cachorrão volta para relembrar curiosidades da histórica conquista do Torneio de Cannes como goleiro titular da seleção brasileira juvenil, em 1973, em time que tinha como um dos destaques o meia Marcelo Oliveira, hoje treinador, além de Luxemburgo como lateral reserva.