Na segunda-feira, 1º, Mogi Mirim viveu um momento mais do que especial. A cidade celebrou os 270 anos da fundação da Paróquia de São José. A comemoração, claro, é pela criação da capela primitiva, que teve a sua primeira missa rezada em 1º de novembro de 1751, data que também é importante pela elevação do antigo arraial aqui instalado em freguesia.
A freguesia de São José de Mogy-mirim, que se desmembrou da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Mogi do Campo, que daria origem, décadas depois, à nossa vizinha Mogi Guaçu. Nestas 27 décadas, muito mudou. Isso inclui a própria igreja demolida, a partir de 1928, e reinaugurada na versão em que conhecemos, em 1943, com a obra concluída em 1951.
Porém, ali, na praça central, está uma história mais do que bicentenária. Embora a pequena Igreja de São José não estivesse totalmente concluída, lá em 1751, ela foi solenemente benzida e inaugurada pelo padre Mateus Lourenço de Carvalho, arcediago do cabido de São Paulo e governador do Bispado, em Sede Vacante.
Nesse mesmo dia de Todos os Santos foi ereta canonicamente a nova Paróquia de Mogi Mirim e nomeado seu primeiro pároco, o padre Antonio Dâmazo da Silva, da ilustre família dos Andrada e Silva.
Atualmente, a paróquia é uma das mais antigas de São Paulo. Assim, na segunda-feira, 1º, ocorreu a solenidade pelos 270 anos, com a presença do bispo da Diocese de Amparo, Dom Luiz Gonzaga Fecchio.
Atual pároco, o padre Ademir Bernardelli concedeu entrevista a O POPULAR. A primeira parte foi publicada na última edição e, hoje, você confere a conclusão deste bate-papo, em clima de júbilo por uma data tão importante para a história mogimiriana.
O POPULAR: Como foi, do ponto de vista emocional, lidar com a preparação para esta festividade em meio à apreensão da evolução da luta contra a Covid-19 e a expectativa de poder contar com público durante as celebrações?
PADRE ADEMIR BERNARDELLI: Mantivemos o equilíbrio necessário para conduzir e organizar os festejos, lutando contra um vírus mortal, com as devidas seguranças e recomendações necessários dos meios públicos, mas com a graça de Deus conseguimos passar e estamos passando, mesmo com um número reduzido tivemos as celebrações e tudo correu conforme era necessário acontecer. Tudo com bom senso e equilíbrio se consegue organizar tudo usando dos meios cabíveis para tal.
ENTREVISTA
O POPULAR: Ainda sobre a pandemia, como estes quase dois anos de luta contra a Covid-19 ficarão marcados dentro de uma história tão longa que é a da Igreja de São José em Mogi Mirim?
PADRE ADEMIR BERNARDELLI: A pandemia marcou e está marcando a vida da humanidade. Não só da Paroquia São José como de tantas outras instituições. Marcamos e escrevemos uma nova página na história onde ficaram registrados para sempre o quanto nosso povo sofreu e ainda sofre por decorrência da Covid-19. Escrevemos datas e momentos que ficaram gravados em nossos corações e memórias de tempos difíceis e obscuros que passamos, pois a Igreja sempre foi aliada ao nosso povo e solidária nos momentos de dor e sofrimento. Mesmo de portas fechadas a igreja rezou, pediu a proteção de Deus e o amparo constante de São José e da Virgem Maria por toda a humanidade. E, aqui em Mogi Mirim, não foi diferente. Fizemos o mesmo em todas as nossas paróquias com os nossos padres, onde sofremos juntos, rezamos juntos e choramos juntos com a nossa gente e sem nunca perder a confiança em Deus, que é Pai e ama a todos.
O POPULAR: A ideia de não restringir as celebrações ao dia 1º de novembro e sim ter praticamente um mês de festa está relacionada ao fato de, nos últimos anos, São José ter ficado sem uma celebração maior por conta da pandemia? Caso não seja esta a ideia/motivação, qual seria e por que?
PADRE ADEMIR BERNARDELLI: O 1º de novembro remete ao jubileu e é um momento único para todos os fiéis, onde celebraremos com grande alegria. São José não ficou sequer um mês sem uma grande celebração. Todos os meses celebramos nosso padroeiro, só não tivemos um grande público, devido às restrições, mas ele foi celebrado dignamente. Em novembro temos o jubileu e antecede o final do ano dedicado a São José, que será em dezembro próximo, no dia 8, mais precisamente. Por este motivo é que estendemos os festejos para o mês de novembro pois é quando celebramos a novena que foi transferida de março passado.
O POPULAR: Para o senhor em especial, qual o sentimento de ser o pároco em uma data tão importante como está para a comunidade de São José?
PADRE ADEMIR BERNARDELLI: A responsabilidade é grande, pois é uma igreja em que passaram tantos ilustres irmãos meus, no passado, exercendo seu ministério sacerdotal. É um motivo muito grande para continuar a evangelizar, pois cada um que por aqui passou deixou sua marca e sua história, cada um fez a sua parte na evangelização, uns mais, outros menos, mas passaram fazendo o bem. E eu, agora como pároco, me sinto na obrigação de continuar a evangelizar e levando o Evangelho de Jesus Cristo a todos, sendo uma igreja que acolhe, que faz comunhão e que vive para ser missão. Uma igreja que nos chama a caminhar juntos e construirmos o Reino de Deus, que começa aqui e agora.
O POPULAR: Como mogimiriano, como é o sentimento de conduzir a comunidade mais antiga da cidade e que foi a base para o desenvolvimento do município?
PADRE ADEMIR BERNARDELLI: Eu me sinto um filho privilegiado, apesar de só ter nascido aqui, pois morava em Jaguariúna, que pertencia à comarca de Mogi Mirim, e em poder estar à frente de uma paróquia que fez e faz a história de uma cidade, cidade esta que nasceu à sombra da igreja, com o amparo de São José, e que continua se evoluindo e crescendo cada vez mais. O sentimento de conduzir uma comunidade como esta é que o peso da responsabilidade dobra. Dobra no serviço evangelizador, pois hoje em dia sabemos o quando é difícil evangelizar o meio urbano e principalmente uma comunidade de centro, tudo se torna mais difícil e exige muito mais esforço para ser criativo e buscar meios para ser atrativos na evangelização, e tudo isso requer uma grande conversão evangélica em que o desprendimento em ir ao encontro do próximo, temos que usar aqui os dizeres do papa Francisco: “Precisamos ser uma igreja em saída”, precisamos ser uma igreja missionária, ir ao encontro e oferecer algo novo e atrativo que leve as pessoas a buscarem a Deus e passem a se envolver e comprometerem no sentido de pertença à comunidade e deixando se envolver na dinâmica do Reino.
O POPULAR: Claro que o senhor não vivia aqui em 1751, mas pelo conhecimento que tem, quais as grandes diferenças dentro da comunidade religiosa de Mogi Mirim em relação a hoje em dia e quais os principais desafios para vocês, párocos, que lideram as comunidades da cidade?
PADRE ADEMIR BERNARDELLI: Cada comunidade tem a sua característica própria, devido o bairro ou onde se localiza a comunidade em que participa, cada uma traz seus problemas e dificuldades. Enfrentamos muitas diferenças e o povo precisa ser evangelizado e catequizado e este é o grande desafio para o mundo moderno, é despertar nas pessoas que cada um é igreja e que não caminhamos sozinhos e nem nos salvamos sozinhos, isso tudo acontece quando fazemos comunhão de vida, de participação, de interesses, de fé, onde todos caminham na mesma direção, o caminhar juntos na igreja nos torna irmãos na caminhada. E para nós os párocos o grande desafio é a evangelização e a catequese de nosso povo não só de nossas crianças mais de todos, pois todos nós precisamos de catequese para conhecer melhor a igreja e saber caminhar como igreja e saber ser igreja e isso nós párocos já estamos trabalhando e precisando trabalhar ainda mais para ajudar o nosso povo neste ideal de sermos cristãos atuantes e responsáveis pela comunidade e não sermos somente meros espectadores, mais estarmos juntos no caminhar sempre.
PERFIL – PADRE ADEMIR BERNARDELLI
Nome completo do pároco: Pe. Ademir Bernardelli
Nome dos pais: Faustino Bernardelli e Izaura Leme do Amaral Bernardelli
Data de nascimento: 07/04/1967
Cidade em que nasceu e foi criado: Mogi Mirim e Jaguariúna
Data e local de ordenação: 09/08/1997
Paróquias em atuou e as respectivas funções nelas: Foi Missionário Redentorista por mais de 25 anos, quando passou o maior tempo da vida no estudo e se preparando para mais tarde atuar pastoralmente onde fosse necessário. Por muitos anos foi formador na filosofia, propedêutico e teologia. Trabalhou no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida por vários anos, atuando no atendimento aos peregrinos, na Rádio Aparecida, TV Aparecida. Bacharelado em Filosofia (PUCCAMP) e Teologia (ITESP- Instituto Teológico São Paulo), Mestrado em Mariologia (Facolta Pontifícia Teológica Marianum – Roma), Presidente da Academia Marial de Aparecida, Vice-diretor da Academia Alfonsiana – Roma. Foi pároco da Paróquia Senhor Santo Cristo no estremo Leste de SP, na grande periferia e maior da América Latina, a Cidade Tiradentes, onde tem uma comunidade missionária. Após uma caminhada com os redentoristas resolveu fazer uma experiência na Diocese de Amparo. Está na diocese desde 2012, onde foi pároco em Itapira, da Paróquia de São Benedito e, depois de oito anos por lá, foi transferido para a Paróquia de São José no ano de 2020, e onde atua pastoralmente, como pároco e Vigário Foraneo.