Dia 14 de outubro de 1903. Nascia aqui, na nossa cidade, uma das equipes de futebol mais antigas do Brasil. O Mogy-mirim Sport Club foi fundado nesta data, como apresenta há mais de uma década o historiador Nelson Patelli Filho, colunista de O POPULAR. “Há provas com jornais, depoimentos de atletas e fotos. Não há o que discutir, o Mogi é de 1903 e foi apenas reorganizado em 1932”, conta Patelli.
O material já foi entregue à diretoria do clube em duas oportunidades. A primeira, no final da “Era Wilson Fernandes de Barros”. A segunda, já com Rivaldo Ferreira na presidência. Em nenhum houve andamento no processo para que o clube oficializasse o dia 14 de outubro de 1903 como a data da sua fundação. “Entreguei duas vezes um dossiê, com tudo o que levantei comprovando esta informação. Mas, infelizmente, não houve andamento”.
A reportagem de O POPULAR já perguntou, inclusive, a dirigentes da Federação Paulista de Futebol, sobre o caso. De acordo com Gustavo Delbin, vice-presidente de Registro, Transferências e Licenciamentos da entidade, basta um procedimento interno, oficializado em cartório, para que a FPF reconheça a alteração.
É claro que, perto da situação atual, em que a agremiação luta pela sobrevivência, contra descalabros financeiros, jurídicos, administrativos e desportivos, a discussão sobre a data de fundação parece uma gota no oceano.
Porém, para um clube que entrou em um calabouço, muito graças à passividade do povo que sempre foi seu principal alicerce, permitindo o domínio das traças, revigorar o passado é um gesto que aparenta ser fundamental para que todos se lembrem do tamanho desta instituição, uma das mais antigas, de qualquer área, entre as ainda vivas em nossa cidade e região.
No dia 7 de outubro de 1903, o jornal “O Mogyano” trazia em sua página 2 a notícia de que um clube faria a sua inauguração no domingo, 11, com um match (se usava o termo em inglês para falar de partida), entre os dois primeiros times. A banda musical do Club Euterpe seria a responsável por abrilhantar a festa.
Na reportagem posterior à partida, o nome da agremiação é citada como “Club Sport Mogy-miriano”. Nas edições seguintes, seria grafado da forma correta, mas ainda com os vícios de uso do britânico, o que era comum no futebol da época. E, não por menos, já que a modalidade chegara ao Brasil oriundo da Inglaterra. O Mogy-mirim Sport Club reuniu, naquele 11 de outubro de 1903, dois times.
Um vestiu azul e o outro, o agora mais do que tradicional, vermelho. De um lado, Francisco Ferreira Alves era o capitão. Do outro, Octavio Ferreira Alves. Na época, capitão não era apenas um jogador, mas uma espécie de técnico, já que a função de treinador não existia de fato.
No dia 10 de outubro, o jornal “O Mogyano” noticiava. “Para a magnífica e primeira festa esportiva realizada nesta cidade, a diretoria do clube não distribuiu convites especiais, permitindo franca entrada a todas as excelentíssimas famílias desta cidade e aos cavalheiros que quiserem honrá-la com suas presenças”. Sobre o jogo, só não foi permitida a entrada de menores não acompanhados por suas famílias.
As equipes foram reforçadas por mogimirianos residentes na Capital. No dia 10 de outubro, o jornal “O Estado de S. Paulo” trazia na página 2 a seguinte notícia. “Seguem hoje para Mogi Mirim os senhores Octávio Alves, Saturnino França, Francisco Canto, José Souza e Oscar Medeiros, afim de tomarem parte na inauguração do clube de futebol daquela cidade”. Na edição posterior à partida, o jornal “O Mogyano” dava a notícia. O time com distintivo azul venceu por 1 a 0.
“O ataque, porém, dos vermelhos, o time contrário, esteve à altura de merecer francos aplausos”, reportava o periódico. É de se destacar que, em cada time, constou um entre os dois primeiros presidentes do Mogi. Do lado vermelho, o promotor público Arthur Pinto Lima, eleito o primeiro presidente da agremiação. Do lado azul, o médico Miguel de Barros Penteado, redator-chefe do “O Mogyano” e que assumiu a presidência no ano seguinte.
Ambos fizeram parte da diretoria eleita naquele 14 de outubro de 1903, data que marca a fundação do clube, por mais que, além do encontro entre os dois times do próprio clube, o Mogi tenha feito um treino, uma espécie de amistoso para a época, no dia 13 de outubro daquele ano, diante do Tabatinguera Foot Ball Club, da Capital, e que terminou empatado. Mais uma vez o jogo foi realizado no “ground” do Mogy-mirim, já chamado pelo jornal como “Sport Club”, a primeira alcunha do Sapão.
Já o primeiro registro em jornal com a grafia próxima da atual foi em 28 de outubro de 1903, quando no “O Mogyano” saiu a nota sobre um novo encontro entre os times principais do “Mogy-mirim Sport Club”. “Os valentes footballers disputaram com muita galhardia a vitória, conseguindo fazer um gol apenas cada um dos times”. Foram os primeiros passos na história do Alvirrubro. Em 1904, foi campeão da Liga do Centro. Na década seguinte, ganhou, entre tantas, a Taça Concórdia.
Em 1911, com Chico Venâncio na presidência, oficializou o vermelho e branco como marca. Nesta primeira fase, o Mogi Mirim teve seus dias de transição, com a Associação Athletica Mogyana e a Associação Mogyana de Esportes Athleticos assumindo o protagonismo no futebol local. O Sapo retornou às atividades em 1931, tendo seu primeiro registro em cartório em 1932. Ali, começava uma nova fase. Mas a história já era escrita desde aquele outubro de 1903…
Foto: Nelson Victal do Prado Júnior