Se a formação de profissionais do esporte tem como uma das bases o olhar para referências, Ricardo Salvato Silveira Cintra é um espelho e tanto para os mogimirianos. Natural da nossa cidade, ele brilhou como atleta e treinador e agora assumiu um novo desafio. Ele agora é o supervisor técnico de natação do Clube Curitibano, uma das grandes potências da modalidade.
Cintra foi anunciado no final de janeiro e, direto da capital paranaense, bateu um papo exclusivo com a reportagem de O POPULAR. Ele falou sobre a mudança de clube e atividade, além de traçar planos a partir deste novo desafio. No Clube Curitibano encontrará uma das principais estruturas do país quando o assunto é esportes aquáticos.
A agremiação foi a quinta colocada no Ranking Nacional de Clubes de Natação 2019, formatado pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). O Curitibano ficou atrás apenas de Minas Tênis Clube, Pinheiros, Corinthians e SESI-SP. Uma das metas de Cintra é melhorar ainda mais esta condição. Para isso, estará à frente da modalidade em um clube que conta com mais de 30 mil sócios e que tem ao menos mil atletas na natação.
“Fui contratado para ser supervisor técnico de toda a equipe de natação. Vou cuidar de todas as categorias, do mirim à sênior. Na verdade eu cuido de tudo. Da parte administrativa e burocrática, como inscrições e federações, e também da técnica. Não será fácil, mas espero conseguir implantar uma metodologia de trabalho, sobretudo porque eles têm muita quantidade e qualidade na base e uma das minhas metas é fazer com que todos falem a mesma língua”.
A receita é certeira em várias modalidades. No futebol, o Barcelona é um grande exemplo. Tudo depende, claro, do tempo. Por isso, Cintra vê o projeto sólido a longo prazo. Por falar em tempo, zelar por ele foi um dos motivos para aceitar o convite de André Luiz Diniz, diretor de natação do Curitibano. O mogimiriano estava em São Paulo, onde trabalhava em dois clubes: Espéria e Pinheiros. Ao atravessar, todos os dias, das zonas Norte à Leste, perdia quase três horas no tráfego.
“Não vou negar, nós não aguentávamos mais morar em São Paulo. Em Curitiba, moramos a 400 metros do clube, é algo surreal para quem estava em São Paulo. Vou andando e volto andando para o clube. A qualidade de vida em Curitiba é sensacional. Fatores que pesaram para Cintra aceitar um novo desafio na carreira. E para Poliana Okimoto, sua esposa e ex-atleta, também seguir rumo ao Sul do país. É um novo momento para o mogimiriano que, ainda adolescente, deixou a cidade natal e construiu uma bela história na natação mundial.
Carreira
Ricardo começou a nadar na Sport Art, em Mogi Mirim. Ganhou um torneio para não federados que contou com um olheiro do Pinheiros. Foi a oportunidade da vida, agarrada braçada a braçada. Aos 14 anos, foi para a Capital e nadou cinco anos no Pinheiros. Depois, passou mais dois no Minas Tênis Clube, dois no Corinthians e dois no Santa Cecília. Neste último, em Santos, conheceu Poliana, que se tornaria sua mulher e que, lá na frente, lhe renderia os grandes sucessos da carreira.
Cintra ainda nadou na Flórida, nos EUA, pela Coral Springs. No currículo de atleta, nove títulos paulistas, medalhas em brasileiros de categorias e o grande feito, a prata no Troféu José Finkel, o Brasileiro Absoluto de Natação, em 2002. “Ganhei do meu grande ídolo, o Gustavo Borges, que nadou na raia do lado, eu na 1 e ele na 2”, relembrou. Como atleta ainda teve participações pela Seleção Brasileira, com presenças em etapas da Copa do Mundo na Austrália e no Rio de Janeiro.
Porém, os grandes triunfos, nem Cintra nega. Foram como treinador. Sobretudo, com Poliana como sua atleta. Esteve em três Jogos Olímpicos, três Jogos Panamericanos, nove Mundiais de Natação e cerca de 40 etapas da Copa do Mundo de Maratona Aquática. Ao lado de Poliana, ganhou inúmeros troféus e a inesquecível medalha de bronze na Olímpiada do Rio de Janeiro, em 2016.
Motivos para Cintra já estar incomodado. Como todo atleta, mesmo depois de sair de cena como competidor de fato, a busca por quebrar as próprias marcas mexe mais até do que algumas derrotas. O mogimiriano quer mais. Quer brilhar em uma nova função e o desafio proposto pelo Clube Curitibano é a chance de mostrar que ainda é possível construir novas histórias.
A ENTREVISTA: Ricardo Cintra, supervisor de natação do Clube Curitibano
O POPULAR: Como aconteceu esta sua ida para o Clube Curitibano?
Ricardo Cintra: Eu conheci o atual diretor de natação, o André, que na época nem tinha esta função, quando a gente veio lançar o livro da Poliana. Agora ele virou diretor de natação e ele queria alguém que tivesse experiência, mais currículo, para colocar, vamos por assim, colocar ordem no clube. E foi tudo muito rápido, eu estava trabalhando no Pinheiros, dando treino para o pessoal, de triatlo, na parte de natação e eles fizeram o convite e duas semanas depois eu já estava em Curitiba.
O POPULAR: O que tanto pesou na decisão de assumir o Curitibano?
Ricardo Cintra: Eu vou ser sincero. O cargo de supervisor é algo que eu nunca tinha feito. Mas, como técnico, modéstia à parte, já sinto que conquistei tudo que um técnico pode sonhar. Fui a três olimpíadas, fui medalhista olímpico, fui campeão mundial. Acho que, dentro da natação, tudo que um técnico pode viver, eu vivi. Queria novos desafios e isso veio de encontro, realmente, porque me tirou da zona de conforto.
O POPULAR: Quais são as principais metas por aí?
Ricardo Cintra: A ideia é Olimpíada, claro. O clube tem uma baita categoria de base e está entre os cinco maiores do Brasil na natação, mas a ideia é a gente ter mais atletas olímpicos. Hoje temos três com mais chances de Olimpíada e a ideia é formar cada vez mais olímpicos. Isso, claro, a longo prazo, a gente sabe que não é simples assim. A ideia é que todas as categorias sigam uma mesma linha de trabalho e que consiga ter continuidade no trabalho. O Curitibano tem atletas de seleção em todas as categorias, inclusive na absoluta e quero aumentar cada vez mais isso. Tornar o clube mais profissional e transformar o Curitibano em uma máquina de campeões.
CRÉDITO DA FOTO: Divulgação/Clube Curitibano