Convocada a comparecer na sessão de segunda-feira, 1º, na Câmara Municipal por meio de um requerimento da vereadora Joelma Franco da Cunha (PTB) para falar na tribuna a respeito da saúde de Mogi Mirim, a vice-prefeita Maria Alice Mostardinha (Patriota) quebrou o silêncio e anunciou o rompimento político com o prefeito Paulo de Oliveira e Silva (PDT). Ela justificou sua decisão em razão da falta de espaço no governo municipal e pelo desrespeito ao cargo que ocupa.
“Há mais de 40 anos trabalho como médica e nunca fui desrespeitada por ninguém desta cidade como fui desrespeitada como vice-prefeita. Nunca fui tão humilhada como estou sendo agora. Nunca fui atendida pela Secretaria de Saúde e nem gabinete eu tenho”, desabafou. Maria Alice revelou que não queria ser vice-prefeita, mas que foi convencida para ajudar a população. “Não queria porque sabia que podia acontecer isso que está acontecendo”, apontou.
Questionada inicialmente pela vereadora Joelma a respeito das inúmeras reclamações que a Câmara recebe a respeito da saúde municipal, como falta de insumos, de profissionais e de uma assistência digna para a população, Maria Alice disse que a saúde em Mogi Mirim poderia estar funcionando de maneira eficiente se houvesse diálogo, respeito e harmonia dentro do poder público.
Sua colocação foi o estopim para iniciar uma série de críticas à administração municipal. “Não deram a mínima para a vice-prefeita. Nunca fui atendida pela Secretaria de Saúde. As pessoas me procuram a todo momento pedindo ajuda, mas não consigo ajudar porque não me atendem na Saúde. Não fazem nada do que eu quero fazer”, frisou.
Apontamentos
Maria Alice ainda apontou falhas na Central de Regulação, na Santa Casa e na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Zona Leste. “Eles pensam que eu não sei de nada, mas sei de tudo. Na UPA, os técnicos de enfermagem trabalham debaixo de pressão. E são em pequeno número diante da quantidade de atendimentos. Se aparece uma urgência, eles precisam largar o atendimento para dar assistência. Ninguém vê isso. Na Santa Casa, faltam insumos, medicamentos e equipamentos”, apontou.
Mais uma vez, como já havia ocorrido em 2021, quando a secretária municipal de Saúde, Clara Carvalho, tentou impedi-la de trabalhar voluntariamente no distrito de Martim Francisco, Maria Alice voltou a relatar problemas de relacionamento com a responsável pela pasta. “Fui cerceada e não me deixa fazer nada. Ela manda e desmanda. A Saúde de Mogi Mirim está amarrada por causa dela. Por que tanta arrogância? Falta hierarquia, humildade, respeito e harmonia”, pontuou.
Maria Alice disse que, ao aceitar a condição de vice-prefeita, se propôs a ajudar na saúde do município, área em que é especialista. “Achei que podia ajudar e não é o que está acontecendo”, comentou. Emocionada – chegou a chorar – pediu perdão para quem creditou seu voto a ela por não ter conseguido cumprir o que lhe confiaram. “Nunca quis ocupar o lugar de ninguém”, reforçou.
Maria Alice estendeu seu descontentamento ao prefeito Paulo Silva. Ela revelou que uma carta de compromisso, assinada pelo chefe do Executivo e demais membros da administração, antes mesmo da eleição, registrada em cartório, garantia a sua participação plena num eventual governo, concedendo, a ela, por exemplo, um gabinete físico. O que teria sido desrespeitado.
“Não tenho gabinete, nem mesmo uma mesa ou uma cadeira. No começo, tinha uma salinha ao lado do gabinete do prefeito, mas que foi tomada pela secretária de Saúde para fazer as ‘lives’ e acabei perdendo a sala”, citou.
Ao final de sua explanação, Maria Alice garantiu que, mesmo sem qualquer tipo de relação com o prefeito, continuará no cargo para fiscalizar e ajudar a população.
Procurada por O POPULAR para se manifestar diante das colocações feitas pela vice-prefeita Maria Alice Mostardinha (Patriota) na noite de segunda-feira, 1º, na Câmara Municipal, a administração municipal informou, em nota enviada pela gerência de comunicação, que desde o início do mandato, a vice-prefeita Maria Alice Fernandes Mostardinha tinha sala e assessora no Gabinete, mas que, ‘por sua total ausência, e com sua assessora ficando ociosa o dia todo e à toa, não havia a necessidade de despesa do Poder Público com tal assessoria’. Por isso, esta foi transferida para realizar outras funções na Prefeitura.
Ainda segundo a nota, o rompimento anunciado por Maria Alice na Câmara ‘trata-se de um rompimento dela com a administração desde o início, por ser totalmente ausente da administração pública, por não ter trazido nada para a Saúde, sequer um projeto inovador para a Saúde’.
O prefeito Paulo de Oliveira e Silva (PDT) demonstrou sua clara insatisfação com o papel da vice-prefeita. “Tenho até inveja do prefeito de Mogi Guaçu (Rodrigo Falsetti), que tem um vice-prefeito como o Major Tuckumantel (Marcos Luís Tuckumantel), sempre presente, buscando recursos para Mogi Guaçu. E aqui em Mogi Mirim, a vice-prefeita é uma ausência total”, frisou.
Paulo Silva questionou Maria Alice quanto aos benefícios que trouxe para a Saúde em um ano e sete meses de mandato. “Que recurso ela trouxe? Que projeto novo ela trouxe? Tem vereador, na Câmara, de vinte e poucos anos, que trouxe muito mais benefícios para a Saúde do que ela como vice-prefeita”, ressaltou.
CRÉDITO DA FOTO: CLAUDIO FELÍCIO/PORTAL DA CIDADE DE MOGI MIRIM
