O motorista Eugênio Manara Júnior, de 33 anos, que deixou o local após se envolver em um grave acidente na Rodovia dos Agricultores, na noite do dia 18 de março, se apresentou junto ao advogado na Delegacia de Mogi Mirim, na manhã de segunda-feira, para prestar depoimento à Polícia Civil.
De acordo com o delegado Luiz Roberto Janini Ortiz, responsável pelo caso, o motorista alegou que o holofote de um guincho, localizado na mesma estrada onde aconteceu a batida, teria atrapalhado sua visão no trecho em que trafegava.
O jovem Henrique Gonçalves da Silva, de 18 anos, morreu no mesmo fim de semana, na Santa Casa de Misericórdia local. Ele foi atingido em cheio por uma pickup Saveiro, cor prata, conduzida pelo agricultor no momento em que voltava de sua propriedade rural sentido à cidade.
“Ele nos disse que estava retornando para casa, por volta das 20h, na rodovia, quando, na altura do guincho, afirmou que teve a visão parcialmente obstruída devido ao holofote da empresa. De repente, ele deu de encontro com a vítima transitando com a bicicleta no meio da via, no mesmo sentido que o seu, momento em que o carro rodopiou”, contou o delegado.
Segundo o boletim de ocorrência, registrado como caso de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, o motorista teria fugido, abandonando o carro na via, ponto contestado por seu advogado. Em seu depoimento, Júnior esclareceu que viu a vítima caída ao chão e que o jovem ainda respirava.
“Ele relatou que, logo em seguida, chegou esse amigo que se prontificou a chamar o resgate e o ajudou a retirar as coisas de dentro do veículo. Depois, passou pelo local um outro conhecido dele, que se ofereceu para levá-lo até em casa, já que estava com dores”, narrou Ortiz.
Mesmo com ferimentos leves, Júnior afirmou à polícia que não sentiu necessidade de passar pela Santa Casa no dia do acidente e reforçou, em sua versão, que não teria ingerido qualquer tipo de bebida alcoólica, uma vez que faz tratamento para um problema de pancreatite (inflamação do pâncreas). O agricultor também declarou que, naquela noite, trafegava pela rodovia a não mais que 80 quilômetros por hora.
Conforme o delegado explicou à reportagem, o agricultor deixou claro em seu depoimento que só foi embora depois da vítima ter sido socorrida, permanecendo seu amigo no local do acidente. No entanto, ele não aguardou a chegada da Polícia Militar (PM) para o registro da ocorrência. Por isso, inicialmente, sabia-se apenas que o veículo estava no nome de seu irmão. O motorista ainda frisou que a bicicleta não tinha nenhum tipo de adesivo refletor, além de apontar a falta de iluminação pública na rodovia.
Providências
Para apurar quais foram as causas do acidente e saber como o motorista será indiciado, a Polícia Civil deverá ouvir os familiares da vítima, as testemunhas que estiveram no local, os policiais militares que atenderam a ocorrência e os socorristas. A polícia também aguarda os laudos da perícia dos veículos, que devem ficar prontos dentro de 30 dias.
A ideia é confrontar as versões apresentadas e verificar, inclusive, se Júnior esteve em algum bar antes do acidente. Segundo o delegado, uma prova testemunhal imparcial e contundente é tão válida quanto o teste do bafômetro. Quanto à justificativa do holofote, Ortiz disse que existe a possibilidade de requisitar uma perícia para constatar se realmente o aparelho teria prejudicado a visão do condutor.
“Não foi pedida a previsão preventiva porque, no dia seguinte, ele (o motorista) já manteve contato com a delegacia e se dispôs a se apresentar, o que não quer dizer que não será responsabilizado criminalmente”, afirmou o delegado.
O motorista pode responder por homicídio culposo e fuga do local de acidente. Se comprovada a ingestão de bebida alcoólica, ele também será indiciado por embriaguez ao volante.
Acidente
Henrique Gonçalves da Silva conduzia uma bicicleta, sentido Mogi Mirim, no momento em que foi atingido pela Saveiro. O acidente ocorreu nas proximidades do trevo de acesso da Rodovia SP-340. A vítima, gravemente ferida, foi socorrida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os familiares disseram que o jovem deu entrada no hospital já inconsciente. A morte de Silva foi confirmada às 5h do dia 20. A causa, apontada no atestado de óbito, foi traumatismo craniano.
De acordo com parentes, o jovem, que era autônomo, chegou do trabalho, no fim da tarde, e foi para a casa da namorada, região da zona Sul. Logo depois, resolveu sair de bicicleta para jogar bola com os amigos em um campinho situado atrás de um guincho, localizado na mesma estrada onde aconteceu o acidente.
O caseiro Wilson Orlando da Silva, pai da vítima, acredita que a cena do acidente tenha sido adulterada em favor do condutor. Depois de enterrar o filho, ele busca por respostas e pede que a justiça seja feita. “Hoje, foi meu menino. Amanhã, pode ser outro. E ele (o motorista) solto”, desabafou à reportagem. O jovem Henrique tinha se formado recentemente no Ensino Médio, pela escola Monsenhor Nora, e pretendia cursar faculdade de mecânica. Além do namoro de dois anos e meio, ele também deixou dois irmãos.