Depois de Careca, é a vez do ex-craque Müller bater um papo no Boteco, relembrando fases da carreira.
Boteco – Na década de 80, pelo São Paulo, o Cilinho chegou a falar a frase: “comigo, você será Müller, sem mim, você não será ninguém”. Você acabou sendo Müller com Telê Santana, Luxemburgo e outros. O que te lembra aquela frase do Cilinho?
Müller – Foi o fundamento, o alicerce para que eu pudesse permanecer em alto nível por muitos anos. Foi um grande treinador, importante na minha vida, porque ele me ensinou muitas coisas e eu coloquei esses ensinamentos em prática ao longo da minha carreira.
Boteco – Alguma história curiosa com o Cilinho?
Müller – Ele falava com o Nelsinho lateral-esquerdo e tinha o Sidney ponta-esquerda. Ele gostava que o Nelsinho tocasse pro Sidney e passasse pra receber na frente. Só que o Sidney tinha que fechar pro Nelsinho passar aberto. Aí o Sidney tava aberto. Ele falava: “pô Sidney, se você não fechar, eu vou ter que cavar um túnel pro Nelsinho passar por baixo” (risos). O Cilinho tinha várias histórias, foi um grandíssimo treinador, uma referência para muitos, fez muitos discípulos, tem muitos ex-jogadores que estão hoje como treinadores, se inspiram muito no Cilinho.
Boteco – Você passou pelo Telê Santana em uma época de mais velocidade, depois com o Luxemburgo e o Leão, usava mais a inteligência. Como comparar esses treinadores em relação ao que fizeram para o desenvolvimento de seu futebol de acordo com suas características?
Müller – Isso depende mais do jogador, a partir do momento que você alcança certa maturidade, você aprende certas coisas que você tem e não sabia que tinha. Eu tinha muita técnica e não sabia que tinha. A partir do momento em que eu descobri que tinha, coloquei em prática minha técnica junto com a velocidade e aí meu futebol cresceu. Passei a ser mais produtivo para minha equipe.
Boteco – Qual o melhor Müller de todos os tempos? O do São Paulo ou do Palmeiras?
Müller – Acho que o do Palmeiras, que eu era mais maduro, como eu disse, experiente, foi ali que eu tive uma regularidade muito grande no Campeonato Paulista de 1996. E o time do Palmeiras era um timaço também, isso ajuda, contribuiu. Minha fase melhor foi no Palmeiras por conta da maturidade.
Boteco – Curiosamente, você ganhou tudo pelo São Paulo e na melhor fase sua, pelo Palmeiras, acabou ganhando apenas o Campeonato Paulista…
Müller – Ganhei muito pelo São Paulo porque fiquei 10 anos no clube. Quanto mais tempo, eu fiquei, mais título eu ganhei. Mas se aquele time do Palmeiras tivesse ficado junto por uns quatro anos, a gente teria ganhado tudo também.
Boteco – Em 1994, você vinha da fase em que o São Paulo estava ganhando tudo e o Edmundo tinha a convocação para a seleção pedida pelo Romário. E ficou aquela discussão sobre a convocação, você acabou indo, mas não teve tantas oportunidades de jogar. O Viola acabou entrando na final… Ficou uma certa tristeza de não ter tantas oportunidades?
Müller – Claro que todo jogador gosta de jogar, em especial a Copa do Mundo. Eu já vinha de duas Copas. Temos que admitir também que o Romário e o Bebeto estavam em grande fase e fizeram um grande Mundial. O que eu lembro de positivo é o convívio com os jogadores e a conquista do tetracampeonato, isso é o que marca.
Boteco – Müller volta para relembrar momentos em grandes decisões e lembrar uma história de Telê Santana.