Na semana em que foi comemorado o Dia do Ator, a cidade de Mogi Mirim esteve respirando arte, uma vez que o tradicional Festival de Teatro está sendo realizado desde segunda-feira no Teatro de Centro Cultural. O evento segue até a noite de amanhã, quando será realizada a sessão de encerramento com um espetáculo que vem de fora e não concorre com as companhias participantes e as peças melhores avaliadas de acordo com o júri serão conhecidas. Amanhã o espetáculo que antecede a premiação se chama “A Noiva do Defunto”, do grupo Andaime de Teatro, que é de Piracicaba. No entanto, hoje ainda há a oportunidade de conferir os dois últimos grupos concorrentes. Nesta manhã, haverá apresentação às 10h de um grupo que vem de Santa Bárbara do Oeste, com a peça “O Broto”, e à noite será a vez do Grupo Cia. Cerne, do Rio de Janeiro, se apresentar com o espetáculo “Ainda Aqui”. A entrada é gratuita.
No entanto, apesar de as apresentações serem gratuitas e os grupos fazerem o melhor para sobreviver da arte, que no Brasil não é tão valorizada, até o fechamento da edição não era alto o número de pessoas que foram assistir aos espetáculos. O primeiro dia, que contou com duas apresentações, foi o dia com maior público e reuniu cerca de 70 pessoas a cada sessão. Nos demais dias, o número foi bem menor, com no máximo quarenta pessoas na plateia de um total de mais de 90 mil habitantes (considerando apenas Mogi Mirim).
A desvalorização da arte e dos artistas é algo presente na vida dos atores e companhias comumente, principalmente em cidades onde a cultura não é incentivada desde a infância. E o reflexo? A contínua desvalorização. Ou seja, um problema infinito, que não é vivido apenas pelos grupos da cidade.
“Vejo a questão da dificuldade da cultura como algo geral, em qualquer parte do mundo. Na crise, a primeira atitude do governo é cortar a cultura, até mesmo porque é um grande perigo para o governo formar cabeças pensantes” disse Alexandre Cruz, diretor e ator da Cia. Arteatrando, de Amparo, que se apresentou na noite de quarta-feira a peça “A vida como ela é”.
Alexandre conta que em Amparo a situação não é tão diferente da vivida por artistas de Mogi Mirim, apesar de ser melhor em alguns aspectos, como nas finanças, por exemplo. “De 2010 a 2013 fomos Ponto de Cultura. Recebíamos verba do Ministério da Cultura e do município para realizar as atividades, mas tivemos uma mudança de grupo político e não houve empenho em dar continuidade. Agora recebemos um apoio, mas tivemos que fazer todo um jogo político que demorou oito meses para recebermos um subsídio. Recebemos R$ 15 mil, que vai dar para pagar o aluguel”, destacou.
“O público também não colabora, se vem ator da Rede Globo vai todo mundo ver. Agora você faz todo um trabalho de construção e não vem nem cem pessoas assistir. Quase não dá para sobreviver com o trabalho que é feito aqui. Então todo final de semana pego a estrada para trabalhar em São Paulo. Acho que lá é costume, os pais levam seus filhos para os espetáculos. Em plena segunda-feira os teatros ficam cheios, aqui os pais só levam as crianças se for para ver a Peppa Pig”, disse Angélica Colombo, que se apresentou no Teatro do Centro Cultural na terça-feira com a peça “Só não levante o meu tapete”, do grupo Tríade Teatral, de São Paulo, mas que hoje está alocada em Mogi Guaçu.
No entanto, apesar de todas as dificuldades existentes para sobreviver da arte, ser ator é algo mágico na visão dos artistas que se desdobram ao máximo, principalmente, no interior. “Viver da arte no interior é ser pau para toda obra. Mas ser ator para mim é transcender, é ser cada dia um, é se propor a entrar numa aventura sem saber onde vai chegar. Hoje eu posso dizer eu faço minha arte e vidv dela, me empresto para outro ser”, finalizou Luiz Dalbo, ator que se apresentou com “Quadra Doze”, da WM’S Cia de Artes e Dança, de Mogi Guaçu, mas também é diretor do espetáculo.