Nani: cambalhotas e dribles abusados
De volta ao Boteco, o baixinho Nani, que ganhou quatro Amadores consecutivos entre 1999 e 2002, recorda o estilo provocador, capaz de gerar expulsões dos zagueiros, e aborda as comemorações com cambalhotas.
Boteco – Como surgiu a idéia da cambalhota?
Nani – Surgiu quando eu entrei na capoeira para aprender a dar mortal. Em uma semana eu aprendi todas as coisas. Aí eu parei, saí da capoeira. Então eu fazia o gol, os caras pediam: “dá mortal, dá mortal”. Aí eu virava cambalhota.
Boteco – Você provocava os zagueiros?
Nani – Provocava. A gente ia pra cima. Batia, aí que eu gostava mais. Vai bater? Vai dar tomar drible, rolar na grama, não tava nem aí. Eu era movido a pancada. Eu tinha mania de dar meia lua, drible da vaca. Vinha seco, eu dava um toquinho do lado, os caras pensavam que eu tocava, na hora que viam, já estavam tomando drible da vaca. Vão de perna, não dava muito chapéu, não.
Boteco – Você preferia zagueiros maiores?
Nani – Zagueirão é sempre mais fácil, os maiores. Eles têm a força física, põem o corpo na frente. Mas eles de frente para a gente, a gente dá um tapa, até eles virarem e ter explosão, eu já tava lá na frente. Não tem jeito.
Boteco – Quem era o mais difícil?
Nani – Teve vários duelos contra Nardo e Ademirzão Negão, da Vila Dias. Os caras batiam sem bola, beliscavam, davam tapa, passavam a mão na bunda, faziam de tudo. Teve um jogo, a gente (Piteiras) tava perdendo de 2 a 0 e entramos eu e Luciano Bridi no segundo tempo, viramos para 4 a 2. Foram 2 gols do Moringa para a Vila. Eu fiz dois e sofri um pênalti. Quando o Ademir fez o pênalti em mim, eu rolei, ele pisou no meu pescoço. Foi fogo, mas eu gostava.
Boteco – Você era bom de provocar expulsão?
Nani – Era, jogador leve, os caras chegavam o pau, eu dava aquela valorizada e aí bateu, vai embora mesmo.
Boteco – No Piteiras, você virou o talismã… O Zito gostava de deixar você para o segundo tempo?
Nani – Ele preferia me deixar para o segundo. Uma que pegava os caras um pouco cansados, porque nesse negócio de Amador conta também o preparo físico, você tendo um pouquinho mais de preparo, velocidade, você desequilibra. Então ele me deixava para o segundo tempo, chamava: “vamos Nani, eu confio em você”. Eu entrava e dava conta do recado, não tinha jeito.
Boteco – Vocês estavam ganhando tudo na época do Piteiras, aí surgiu o ranking de jogadores e pararam de ganhar… Como foi quando o Zito teve que escolher quem ia ficar das estrelas? Você acabou sendo um dos selecionados para ficar.
Nani – Paramos de ganhar. A gente se sente feliz saber que a pessoa sempre contou com você e a hora que você precisou… Até porque eu não queria vestir a camisa de outro time. E acabei me simpatizando, pra mim foi a família Piteiras, Piteiras não tinha torcida, torcida nossa era esposa do Valmir, do Barione, minhas primas, mãe gritando com as minhas irmãs, meu irmão Jabazinho me apoiou muito.
Boteco – Ali o Zito ficou até numa situação de constrangimento de ter que escolher os ranqueados…
Nani – Ficou chateado em ter que escolher, desanimou também. “Os caras tão querendo acabar com nós”. Aí desanimou com esse negócio de bola, começou a arrumar time lá no Guaçu. Aí acabou desmotivando um pouco.
Boteco – Nani volta para o último capítulo de suas recordações, desta vez lembrando situações engraçadas, revelando a diferença entre jogar na Santa Cruz e no Piteiras e falando do drama da contusão no joelho que o afastou do mundo da bola no auge de sua carreira.