Chegar em casa é sempre emocionante! Isso porque, ou estou no malabarismo para não deixar nada que está enroscado em mim cair, ou preciso de agilidade para os bichos não fugirem ou por questões de segurança mesmo com o portão aberto. Piorou um pouco com a Covid-19 e o desespero de lavar as mãos antes de tocar em qualquer coisa.
Fora isso, trago comigo uma mochila cheia, com tudo que vivi no dia, carregada nas costas. Minha esperança, quando adentro o lar, é que estou passando por um portal onde, a partir daquele momento, por mais funções braçais que ainda precise cumprir, meu cérebro vai desconectar e usufruirá do silêncio restaurador. Doce ilusão!
Na verdade, usando um exemplo bem tosco, parece que eu abri a porteira, aquelas de festa do peão, sabe? O boi sai pulando alto, o locutor fica instigando a galera da arquibancada, que reage com gritos de euforia.
É isso. A Bárbara que chega em casa é a mãe e, não importa quantos anos seus filhos tenham, felizmente, eles precisam da participação dela. Às vezes, tudo que eu quero é ir até o quarto, tomar um banho, colocar uma roupa limpa e voltar inteira para eles. Mas não há tempo.
Entro pela sala e o máximo que consigo chegar é na copa, que fica ao lado e despejar tudo sobre a mesa. De lá começam as histórias do que aconteceu na escola, de quantas horas o gato dormiu, da rotina do dia seguinte, do pai da amiga que está doente, do piloto que vai conseguir tempo para a prova de domingo… e… e…
Eu preciso fazer um baita esforço para não achar que a minha expectativa de descanso é mais importante do que aquele monte de coisas que eles estão me trazendo, mesmo que isso seja um rímel pink com glíter. Há em mim também a preocupação de não desapontar, embora acredito que o faça na maior parte das vezes.
Sabe quando acontece algo na sua vida muito, muito, mas muito legal e que você está mega feliz com aquilo e não vê a hora de dividir isso com alguém? Até que encontra essa pessoa e, assim que termina de falar, o máximo que ela faz é dar um sorriso de canto de boca? Adolescentes vivem isso intensamente e diariamente.
Já aconteceu, por exemplo, da Gabi descobrir o melhor sabonete do mundo para lavar o rosto, solução de todos os seus problemas, pela pequena bagatela de R$ 200, e me receber eufórica para contar, querendo que eu abrisse os braços e dissesse: “claro, pega o cartão lá na minha bolsa”, enquanto eu, na verdade, faço apenas um “ah”, controlando aquela voz dentro de mim que tem vontade de gritar para ela “tá louca? Em que mundo você vive para comprar um sabonete deste preço?”.
Já o Neto gosta de me contar tudo com calma e riqueza de detalhes. Enquanto ele fala, meu cérebro fica “nossa, podia tá fazendo tanta coisa e tô aqui, parada, só ouvindo, nem prestando atenção estou”. Ao mesmo tempo, uma outra voz rebate “tem tanta mãe que gostaria que o filho conversasse com ela assim e você não está dando valor”.
Repito, isoladamente tudo parece fácil: basta parar, ouvir as histórias e vida que segue. Mas, às vezes, o cansaço grita, a fome dói no estômago e você ainda nem descascou a cebola para pensar em fazer a janta. A grande questão sobre educar e participar ativamente é ter equilíbrio entre uma rotina que exige, perceber a vida e conviver com gentileza.