Em meados do século XIX, em Mogi Mirim, os três dias anteriores a Quarta-feira de Cinzas e atualmente dedicados ao Carnaval, eram festivamente celebrados com as brincadeiras do entrudo, envolvendo as famosas laranjinhas e os baldes de água. As laranjinhas eram bolotas de cera contendo em seu interior água perfumada e muitas vezes outros líquidos bem menos cheirosos e bastante desagradáveis. Mas, devido ao custo, as laranjinhas eram privilégio dos mais abastados e restando aos pobres a confecção de uma espécie de seringa feita de bambu e que lançava um jato de água nas pessoas.
Entretanto, a brincadeira mais comum em Mogi Mirim e a preferida de todas as classes sociais era a bacia de água. Consistia no seguinte: as famílias preparavam em casa enormes bacias cheias de água dos chafarizes e ficavam aguardando de soslaio, nas portas e janelas, a passagem de pessoas que circulavam pelas calçadas e ruas. De repente, o incauto transeunte levava um tremendo banho acompanhado de sonoras risadas, que ecoavam não somente dos brincalhões mais também da própria vítima e que acabava aceitando com bom humor o seu papel. Afinal, era o entrudo.
Pelas ruas desfilavam bandos de foliões, denominados de máscaras e encamisados, levando alegria por onde passavam e acompanhados pelas corporações musicais de Mogi Mirim. Os componentes desses antigos blocos e que existiram entre os anos de 1850 e 1880, cantavam e entregavam flores para as moças mogimirianas. Alguns fantasiavam-se de mendigos com roupas maltrapilhas e com máscaras que ocultavam totalmente o rosto. Assim disfarçados, perguntavam as pessoas:
– Você me conhece? Quem não adivinhasse, como castigo recebia um grande banho de água fria. Mas ninguém reclamava e segundo os antigos cronistas, todos divertiam-se a valer.
Nessa época, existia também o Zé Pereira, denominação de um grande grupo de brincalhões que saia do Largo do Carmo (atual Praça Floriano Peixoto) todos os anos, tocando clarins e batendo em enormes bumbos que produziam infernal barulho. Nos salões dos clubes mogimirianos aconteciam famosos bailes de máscaras e com fantasias obrigatórias, na Sociedade Dançante Familiar 15 de novembro, Philarmônica Mogymiriana e Sociedade Democrática Familiar.
A partir de 1882, o entrudo foi substituído pelo Carnaval, com desfile de blocos e carros alegóricos. As laranjinhas e baldes com água foram trocados por confetes e pelas serpentinas. Um dos maiores carnavais no século XIX ocorreu em 1888, quando desfilaram quatro grandes blocos e seis carros alegóricos pelas ruas da cidade e grandes bailes de máscaras nos clubes. Os carros alegóricos da época eram montados em enormes carros-de-boi e grande carroções puxados à cavalos.
Já na segunda década do século XX, iniciaram-se os saudosos corsos e surgiu o lança-perfumes, que era lançado pelas moças e rapazes que desfilavam em Buicks, Fords Bigode e Guarda Louças. As melindrosas e os almofadinhas de palheta lotavam os clubes Recreativo e Sete de Setembro, dançando ao som das marchinhas executadas pelas Bandas União dos Operários e União Santa Cecilia.
Na década de cinquenta teve início o carnaval de cordões. O primeiro foi o Cordão dos Zuavos, representando o Bairro do Tucura e liderado pelo popular Veado. Anos depois surgiram as Escolas de Samba, destacando-se a Acadêmicos do Aterrado e dirigida pelo solista da frigideira, Orozimbo Janini.
Dos anos noventa para cá, praticamente despareceu o Carnaval de rua em Mogi Mirim, com esporádicas apresentações de blocos e escolas de samba, sendo substituídos em algumas oportunidades por trio-elétricos que não vingaram.
As fantasias escassearam, talvez também a alegria do passado e principalmente as músicas dedicadas ao Carnaval, que perderam em beleza e conteúdo. Afinal, o sucesso ainda está com as velhas marchinhas: Aurora, Máscara Negra, Deserto do Saara, Jardineira, Mamãe eu quero, e tantas outras. Que foi feito do nosso carnaval?
Preceitos Bíblicos: “Se nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, então somos os mais infelizes de todos os homens”. (1 Cor 15,19)
Túnel do Tempo: Em 21 de maio de 1888, o vereador João Crisóstomo Bueno dos Reis apresentou para a Câmara Municipal de Mogi Mirim uma indicação para se nomear Rua 13 de Maio a antiga Rua da Palma, em homenagem a abolição da escravatura.
Legenda da Imagem: O carnaval de 1962 foi bastante animado em Mogi Mirim. Nas ruas e salões o povo compareceu em grande número, prestigiando as festividades do tríduo momesco. A Prefeitura colaborou bastante para o sucesso, doando verbas para os cordões da época e incentivando com entrega de taças aos campeões. O popular Dito Veado, fundador e presidente do Cordão Zuavo, recebeu das mãos do prefeito Luiz Franklin Silva umas das taças, enquanto outra foi entregue aquele que foi eleito o maior folião, Luiz Soares, o Luiz Bateria. O deputado Nagib Chaib também esteve presente na cerimônia de entrega dos prêmios e que foi transmitida pela Rádio Cultura, através do Orlando Bronzatto, o popular e saudoso Pintaca (ao centro).