Eu acho que, assim que a gente engravida, a explosão de hormônios é tão grande que nunca mais as coisas voltam para o eixo. Estou apostando nisto para justificar tanta variação de sentimentos em relação à maternidade.
Minha sogra mora na praia. Então, todos os anos, nas férias de janeiro, eles passam pelo menos 15 dias por lá. Não preciso nem dizer o quanto é uma delícia: casa de vó + calorzão de janeiro + amigos de temporada.
Por aqui, eu e meu marido também nos sentimos de férias. Praticamente só temos horário fixo para o trabalho. De resto, seguimos o fluxo da vontade. Tomamos café na padaria e conhecemos um monte de restaurante novos, tendo em vista que é infinitamente mais barato ir em duas do que em quatro pessoas. Também dá tempo de andar de moto sem pressa de voltar para a casa e de maratonar aquela série deixada de lado por falta de tempo.
Me sinto uma jovem adolescente recém-casada. Sem falar, é claro, nas tomadas de decisão. Elas praticamente inexistem. Não preciso ficar o tempo todo ponderando as necessidades e escolhas de ninguém e o cérebro fica calminho, calminho! Sobra tempo, sobra dinheiro!
Ao nosso olhar cansado do dia a dia, essa vida parece perfeita. E realmente é, mas por um período bem programado. Na verdade, acho que só é tão leve porque sei que é temporário, porque vivo na certeza que, em breve, estaremos todos nos cruzando pelos cantos da casa.
Existe até um nome para isso: síndrome do ninho vazio, uma sensação psicológica de pesar e solidão que os pais sentem quando os filhos saem de casa. Eu começo a sentir saudade do cesto de roupa sujas cheio. Começa a me irritar o silêncio da casa e eu quero todo aquele esgotamento de volta.
Fico só pensando como será daqui bem pouco tempo, com a tendência de irem morar fora para estudar. Sei que, depois disso, dificilmente voltemos a dividir o mesmo teto. E isso custará menos copos na pia, menos idas ao supermercado, mas muito, muito menos convivência.
Reitero aqui que, para mim, viver é colecionar trocas, dividir momentos. Assim vamos nos formando, assim nossos olhos veem e mandam para dentro, para guardamos em cada caixinha. Disso somos compostos. E tenho a certeza aqui dentro de minhas entranhas que hoje o que mais me estafa, ainda me fará muita falta.