No segundo capítulo de seu bate-papo, o ex-atacante Nino recorda a festa do título carioca pelo Bangu, em 1966, e os presentes do dirigente e bicheiro Castor de Andrade aos atletas.
Boteco – O Castor chegava a dar bronca nos jogadores?
Nino – Chegava: “fdp”, no treino. E nos treinos, ele batia pênalti e o goleiro nosso era um gozador. Castor ia de terno. Ele mandava no jogo de bicho do Rio de Janeiro inteiro e o pai dele também, meu contrato quem assinou foi o pai dele. “Dr. Castor, o senhor não vai bater pênalti no intervalo do treino, hoje?”. “Vamos, vou bater”. E ele com aquele sapato, quanto custava? Aquele couro, coisa linda e terno brilhante, gravata. E ele: “Dá aqui a bola. Hoje vou fazer o gol, hein”. Ele afastava e: pau. Saía fraquinha, a bola, vinha pingando, a hora que ia entrar aqui, ele pulava pra cá. Para puxar o saco do Castor. Aí o Castor: “oh, fdp, tá me enganando, tó 100 reais”. A gente rachava de rir.
Boteco – Como foi a festa do título carioca?
Nino – Aquilo virou um sururu em Bangu, você não podia dormir à noite de tanto rojão e nego querendo entrar na chácara. Olha, eu fiquei 2 dias só na festa. Rojão e churrasco pra tudo quanto é lado, a festa nossa era dentro da onde a gente morava, uma chácara grande pra caramba, jogador e dirigente, amigo do Castor, mulherada que vinha, Chacrinha, banzé, Rio de Janeiro.
Boteco – Como era o Castor na festa?
Nino – Quietão, achando boa, todo mundo abraçando ele, era um ídolo, líder, magrinho, adorado. Então, teve a festa, aí o Castor foi na concentração. “Oh, putaiada, fpd, vocês não acordam?”. Jogador dorme até mais tarde. “Vocês fizeram o que tinha que fazer, ganhamos, quase dou tiro no coisa (juiz), mas tudo bem. Então, vamos lá na agência, cada um vai ganhar um carro, se quiserem, senão, eu pago em dinheiro”. Aí fomos numa agência que vendia o Volkswagen, lançamento, o Fusca. Quem tinha carro no Bangu? Hoje, você vai em qualquer time de várzea, os jogadores têm carro. Entramos e eu ali, meio puxa-saco do Paulo Borges, que fez o gol (na final), conversando com o Paulo. Quem quer o verde, tem alguém que gosta do preto, vermelhinho? Paulo não sabia se pegava o carro, se pegava em dinheiro. Eu também tava pensando e aquele sururu, jogadorzada, quero verde, azul. Aí o cara: “Eu tenho um carro ali, lançamento, Karmanguia”. Tinha um salão grande e uma porta, maior, fechada. Aí o cara: “Tem 2, um vermelho e um preto, não quer ficar com o carro?”. Tinha direito a um, não precisava ser o Fusca. Podia ser aquele, mas tinha que pagar a diferença. “Vem cá, não pode deixar todo mundo ver, só tem 2”. A hora que eu entrei, que carro lindo, o Paulo Borges pulou dentro, não saio mais daqui. Ele pegou o preto, eu, o vermelho. Quanto é? A gente parcela. Aí a vontade de vir para Mogi pra mostrar o carro…
Boteco – E os outros jogadores?
Nino – Ficaram doidos, a hora que viram eu com o Paulo.
Boteco – E o Castor?
Nino – Pro Castor era tudo mesma coisa, dinheiro era quirela. “Vou pagar a diferença”. “Tudo bem, o que vocês fizerem, tá feito”. Aí passou uns 2 dias, eu vim pra Mogi.
Boteco – Campeão carioca e com o carrão?
Nino – Pensa o que aconteceu em Mogi. Eu com o Karmanguia, o Flávio (irmão de Nino) ficou doido, o Marco (outro irmão de Nino): “Empresta o carro pra mim”. “Tudo bem”.
Boteco – E chamava a atenção das mulheres?
Nino – A mulherada queria entrar, mas só cabia uma, uma e mais (uma) atrás.
Boteco – Nino volta para lembrar curiosidades do jogo em que, defendendo o Noroeste, enfrentou o Santos, de Pelé.