O hoje advogado Antonio José Franco de Campos, o Nino, ex-centroavante de Mogi Mirim e Noroeste, dentre outros times, recorda a chegada ao Bangu, de Castor de Andrade, famoso bicheiro, quando integrou o elenco campeão carioca de 1966.
Boteco – Como foi a chegada ao Bangu?
Nino – O Bangu me contratou, eu e o Ladeira, que foi técnico do sub-20 do Corinthians. O Ladeira jogou no São José do Rio Preto (América), no Paulista. Eu fiz bastante gol (pelo Noroeste) e ele também. E me ferrou lá. Tava no meio do campeonato do Rio de Janeiro e o Bangu já tava na frente. Naquela época, não tinha banco, os times entravam com 11 e tinha que terminar com 11. Se machucasse, ia pra ponta esquerda, ficava ali, recebia e tocava se desse. E logo que fizemos o contrato, falei: “Dr. Castor, posso ir pra Mogi Mirim, só um pouquinho?”. Passar uma semana em Mogi, depois me apresento. “Vai, Nino, não enche o saco, pode ir, mas volta bom”. E o Ladeira foi direto. E eu vim.
Boteco – Você tava com saudade de Mogi?
Nino – Claro, você quer mostrar que tá bem e tal. E o Ladeira entrou e começou a jogar e o Bangu não perdeu mais. Então, na realidade, joguei uma, duas partidas, que o Ladeira machucou, mas continuou a mesma coisa. Ele ficou lá na minha frente, chegou primeiro.
Boteco – Você depois se arrependeu?
Nino – Arrependi, o meu pai, o Lolio, ficou puto: “Por que você tem que vir pra cá? Se você chega junto com o Ladeira lá, podia ter escolhido você”. Era o Gonzales (o técnico).
Boteco – O que você lembra de curioso, alguma história?
Nino – Contra o Flamengo (a final), deu um pau do cacete, de porrada, o Castor entrou no campo, puxou uma Mauser, prateada, com cabo branco. E foi em cima do juiz, você não sabe com quem você tá falando, vou te dar um tiro. Levantou o Maracanã inteiro. Voltou pro jogo e o Bangu ganhou.
Boteco – Como era a noite do Rio?
Nino – Você lembra do Chacrinha? Bangu entrava de graça. Ele fazia apresentações dessas mulheradas, se a mulher invocasse com você, podia sair com ela. Jogador que quisesse ir podia. A gente ia no programa da Globo. O Bangu era convidado, amigo do Castor.
Boteco – Alguma história curiosa com o Castor?
Nino – Eu estranhei a hora que cheguei porque não sabia do negócio. A gente morava em uma puta chácara, piscina, campo pequeno. Bastante quarto, jogadorzada ficava lá. Chegou o Castor, logo que eu cheguei, eu meio bobo ainda, não sabia como era. Aí chegaram 3 peruas e pararam na entrada, já dentro da chácara. De repente veio um puta carro, era o Castor, ele importava, aquele carro podia dar tiro que não entrava bala, tinha que ter isso porque ele era o dono do Rio de Janeiro. A gente tava jogando snooker. Castor chegou 0h. “Putada” (forma de chamar os jogadores). Tava em 1º lugar, ele tava contente. E dos 3 carros saíram uns caras, cada um com uma malinha, essas malinhas 007, pretinha. “Traz essas malas”. Na mesona de snooker. “Dá uma mala aí”. Colocou em cima e abriu. A hora que abriu, a mala inteira em pacote de dinheiro, hoje seria 100 reais, a nota mais cara. Ele tinha acabado de arrecadar o jogo de bicho. Aí pegou um pacotinho e enfiava nota na caçapa, se o cara enfiasse a bola, podia pegar o dinheiro, mas como ia pegar? Dava tremedeira. A ponta do taco fazia assim (tremia). E errava. “Pqp, você não consegue enfiar essa bola. Dá aqui o taco”. E ele pá, enfiava. E rachava de rir. Fazia no campeonato inteiro.
Boteco – Nino volta para contar a festança do título carioca e a história dos carros dados de presente por Castor.