Quem frequenta as redes sociais diariamente, como faço até por dever de ofício, constata um nervosismo explosivo em razão da epidemia de dengue na qual estão mergulhadas várias cidades, próximas ou remotas.
Para dizer a verdade, não pelo vozerio, mas pela dimensão da crise, ando me sentindo espreitado pelo mosquito, pronto a me atacar a qualquer momento. E tendo em conta minhas peculiaridades (dois enfartes, diabetes), sinto-me com o traseiro próximo da cerca.
As manifestações que são publicadas, com educação ou grosseria exemplar, conforme cada caso, não deixam de ser procedentes no que diz respeito a expressarem preocupações. Me dá a impressão que, até então, em outros surtos ou epidemias menos agudos, boa parte das pessoas raciocinavam com sensação de que “isto não é comigo”. Em outras palavras, coisa do andar de baixo.
Em exercício livre de interpretação, o que parece é o seguinte: a explosão dos casos se concentrou num período curto. De janeiro até agora, dois meses e menos de uma quinzena. Daí o alcance espetacular da doença, daí o susto, daí o pânico que atinge as pessoas. E em tal estado de espírito, as reações não seriam mesmo diferentes.
Há duas coisas que gostaria de observar, uma das quais a atribuição de responsabilidades a terceiros – no caso as autoridades públicas – por um problema que, em sua raiz, está predominantemente abrigado no sacrossanto ambiente das nossas casas, dos nossos terrenos, das nossas lojas e por ai vai. Claro que ele está também nas dependências e nas propriedades do Poder Público.
O estrilo é um direito, sem qualquer dúvida. Em especial pela justeza da crítica a quem, seja por qual razão tenha sido, não conseguiu agir com a prevenção capaz de evitar o pior. Mas, cá entre nós, conduta eficaz, nesta hora, é levar as mãos à obra e juntar os braços para atacar ferozmente esse atrevido desse mosquitinho que é capaz de derrubar multidões. Ele não será vencido totalmente, será tonteado até cambalear, mas não estará morto.
O segundo aspecto, então, a que me proponho divagar diz respeito a certa má convicção que carrego. Não será o poder público que porá fim a essa calamidade que vivemos, por mais que mobilize exércitos de servidores e agentes de toda espécie. A propagação do transmissor tomou um tamanho que o fez incontrolável. Este é o fato.
Veremos o fim desta crise por geração espontânea. Ela vai acabar quando não houver mais ambiente para a continuidade do causador. Será como aquela dor que vem e, por ela mesma, vai embora.
É o que penso estupidamente, sem qualquer fundamentação minimamente razoável. Mas, penso por experiências vividas durante períodos em que o intruso nos visitou anteriormente, aliás por mais de uma vez.
Ah! E penso também que devemos nos preparar para, ano que vem, estarmos debatendo de novo com o mesmo cruel inimigo, uma vez que ele sobrevive da nossa cultura de terceiro mundo. Quem viver verá.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR