Cacilda. 88 bilhões de reais é o tamanho do rombo praticado na Petrobrás durante todo esse tempo em que os cofres da empresa vêm sendo assaltados? Quer dizer, então, que o Mensalão foi o que? Coisa de um celularzinho furtado do balcão de uma loja? Um docinho tirado da mão de uma indefesa criança?
Os números são assustadores. Eu diria que os números são abusivos. Pô, não precisariam chegar a tanto. Talvez se tivessem sido melhor comportados, menos apressados, a putaria iria ainda mais longe. Se é que acabou, uma vez que o braço da lei nem sempre é grande o suficiente para alcançar tudo.
Afora o que os números causam de espanto e fazem eriçar os pelos de todas as partes do corpo, inclusive lá, fica evidente ter sido instalado um sistema operacional institucionalizado. Em termos de organização, algo semelhante a uma máfia.
A cada nova revelação se constata que praticamente todos os negócios passavam pelo condicionamento de comissões. Aliás, comissões sempre generosas. Funcionavam no patamar dos milhões. Acintosamente, falam em milhões como se estivessem tratando de trocados que se dá de esmola a morador de rua.
É intrigante que tudo isso tenha passado ao largo da alta direção da empresa durante tanto tempo. Cacilda, ninguém sabia de nada? Ninguém desconfiava. Na nossa maldade genética, quando um vizinho pilota um carro importado ou faz um passeio pelo mundo, já botamos nossa pontinha de dúvida sobre as origens da riqueza repentina dele.
É intrigante que as cabeças coroadas da petroleira não captassem sinal algum de enriquecimento suspeito de seus imediatos, auxiliares ou seja o que for. É certo que a Petrobras é muito grande. Mas, pela sua complexidade e seu tamanho, é uma empresa muito bem apetrechada de mecanismos administrativos. Verifica-se que não funcionaram.
E tudo sinistro, muito sinistro, como dizia o narrador de futebol Januário de Oliveira.
Agora é tarde. O fato está aí. Temo, sinceramente, que ainda não seja tudo. Afinal, como costuma brincar o jornalista André Paes Leme, cada foiçada é uma minhoca. Estão sempre surgindo fatos novos. Aguardemos com o terço na mão. Terço, bem entendido, aquele com o qual os católicos fazem suas orações.
Por muito apropriado, chamo a atenção para o fato de que esse jorrar de excrementos ocorre precisamente quando se está na iminência da abertura do calendário de prestação de contas ao Imposto de Renda.
Que sensação devo ter eu quando compulsoriamente já saciei o apetite voraz do Leão e ainda vou ter que me encontrar com ele, no mesmo instante em que todos os brasileiros – incluso este escriba – estão sendo tungados pela ação da bandidagem instalada na Petrobras? Minha sensação é de estar alimentando predadores. Afinal, como saber quanto do meu suor vai escorrer por entre os dedos do Fisco, nutrindo contas bancárias de salafrários e filhos de mães pouco reputadas aboletados no governo?
É melhor fazer de conta que está tudo azul no Reino do faz de conta. Afinal, o que é Brasil senão isso, não é mesmo.
Desce uma Brahma aí, garçom!
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR