Na última terça-feira, 22, o Mogi Mirim Esporte Clube foi confirmado pela Federação Paulista de Futebol (FPF) como um dos participantes da Segunda Divisão do Paulista, que nada mais é que uma Série A4, o último nível do futebol em nosso estado. Um olhar desatento ou passional pode dar uma primeira impressão de ótima notícia.
Mas basta fazer uma breve análise do contexto em que se dá esse retorno para identificar o perigo que ele pode representar a uma já combalida instituição. À frente do projeto está Luiz Henrique de Oliveira. O presidente que assumiu em 2015, recebeu um clube com uma dívida infinitamente menor do que a atual, com vaga na elite estadual e na Série B do Campeonato Brasileiro.
Nas redes sociais do clube se observa nas últimas semanas um esforço enorme para definir essa volta ao profissionalismo como o início de um novo ciclo. Como se tudo que de positivo pudesse vir a partir de agora, não guardasse nenhuma relação com o desastre esportivo e administrativo que a cidade assistiu incrédula.
A credibilidade que o Sapo conquistou a duras penas e com o esforço de muitas mãos no cenário nacional do futebol foi jogada fora sem o menor constrangimento ou compromisso com a história e o patrimônio do clube. Pessoas com folha de serviços prestados ao Mogi foram aleijadas do presente e do futuro da instituição. Os mogimirianos, os torcedores, nunca foram respeitados.
São cinco rebaixamentos em seis campeonatos disputados e o aproveitamento às avessas só não é total porque Portuguesa e Guaratinguetá estavam piores na Série C de 2016. E ainda teve uma Série D, que mesmo sem descenso, uma vez que suas vagas são conquistadas via estaduais, ano a ano, resultou na saída do clube do cenário nacional.
Não houve um certame sequer em que jogadores, comissões técnicas e funcionários não reclamassem de salários atrasados. Obviamente as dívidas trabalhistas do Sapão da Mogiana cresceram em progressão assustadora e tivemos até greve de atletas garantida legalmente por sindicato. Não dá para esquecer do episódio no qual o meia Cristian precisou da intermediação de Mauro Silva e da Federação para que o elenco tivesse garantia de recebimento de pelo menos um mês dos atrasos. Tivemos também W.O’s, perda de jogos sem entrar em campo.
Tudo isso sem falar nas inúmeras interdições ocorridas no Vail Chaves, que obrigaram o Mogi, por exemplo, a mandar jogos em Itapira na Série A3 de 2018. Ou nas eleições que nunca foram suficientemente transparentes e que até o momento ainda são objeto de questionamento judicial.
À imensa maioria de leitores conscientes de O POPULAR, peço que não reduzam esse texto simplesmente a uma torcida contra ou a favor. São apenas alguns dos fatos que não permitem que a volta aos gramados seja vista verdadeiramente como um novo ciclo. Nada indica que as práticas serão alteradas e que o sentimento de tristeza possa se transformar em esperança de dias melhores. Infelizmente, nem sempre a bola rolando é o mais importante.