A alimentação é fundamental para uma vida com mais bem estar e saúde. Por isso, cada vez mais pessoas estão conscientes da importância de se informar sobre os nutrientes presentes nos produtos que compram, em especial, os industrializados e ultraprocessados. Os rótulos são fundamentais neste sentido e a legislação sobre o tema tem buscado tornar mais simples a vida dos consumidores.
Os itens que já estão no mercado ainda podem levar até três anos para ter mudanças, mas, os lançados a partir de 9 de outubro já precisam seguir um novo regramento. E alimentos em geral têm até 12 meses para se adequar. Produtos fabricados por agricultores familiares, empreendimentos econômicos solidários, microempreendedores individuais e agroindústrias de pequeno porte ou artesanais têm até 24 meses. Já bebidas não alcoólicas com embalagens retornáveis têm até 36 meses.
Mas, independente do período de transição de cada produto, o que deve mudar? Uma das principais diferenças é que os alimentos com altos teores de açúcar, sódio e gordura saturada precisam estampar essas informações com destaque, na parte da frente da embalagem, como alerta para os consumidores.
Em entrevista ao site da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp (Universidade de Campinas), Ana Clara Durán, nutricionista e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA), frisou que o objetivo é facilitar a tomada de decisão do consumidor na hora da compra. “A gente não vai mais precisar virar a embalagem e procurar aquelas letras pequenas, que ninguém consegue ler” pontuou.
Ela participou do processo de formulação das novas regras junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e explica o motivo destes três nutrientes terem sido destacados neste novo regramento. “Já existe evidência muito consolidada de que eles aumentam o risco do desenvolvimento de algumas doenças, principalmente diabates, no caso do açúcar e, mais ainda, das bebidas adoçadas com açúcar. O sódio é relacionado à hipertensão e a gordura saturada está associada ao acúmulo nas artérias, que aumenta o risco de doenças isquêmicas ou vasculares. Além de tudo isso, açúcar e gordura saturada são associadas diretamente à obesidade”.
Além dos alertas na frente das embalagens, agora as tabelas de informação nutricional só poderão ter letras pretas e fundo branco, para evitar que possíveis contrastes atrapalhem a leitura. As normas preveem outras modificações para que a tabela nutricional seja mais clara e de fácil compreensão. Os debates para que se chegasse à aprovação das novas regras reuniram membros da comunidade científica, da sociedade civil e da indústria de alimentos.
Ana Clara acredita que, devido às pressões de representantes da indústria, a versão final aprovada acabou sendo mais branda do que os especialistas pretendiam – sem alertas, por exemplo, para altos índices de adoçantes (edulcorantes), que também estão associados de maneira significativa a muitos problemas de saúde, conforme evidências científicas mais recentes têm demonstrado, segundo a pesquisadora.
“Muitos produtos têm adoçantes mas não deixam isso claro para o consumidor. A gente continua em contato com a Anvisa e estamos agora na fase de monitoramento e avaliação de impacto da implantação da norma, como será a resposta da indústria e dos consumidores. A referência que a gente tem de outros países que implementaram é que a indústria tende a trocar açúcar por adoçante, para não aparecer o alerta”.
A pesquisadora observa que muitos produtos que utilizam a publicidade para passar uma imagem de “saudáveis”, como alguns tipos de iogurtes, barras de cereais e alimentos “naturais”, são repletos de adoçantes, sem que isso seja informado com clareza aos consumidores. “A gente está consumindo sem saber, esse é o grande problema. Essa é uma questão ética, né?”, finalizou.