O Partido Verde (PV) é o primeiro a deixar a base aliada e assumir que não compactua com os rumos do governo de Gustavo Stupp (PDT). A decisão vinha sendo discutida desde o ano passado entre os membros da executiva e somente agora a decisão final foi tomada.
“Definitivamente somos oposição. Aliás, nunca estivemos com o governo, mas jamais expusemos isso publicamente”, disse o presidente do PV, Anderson Mendonça. Segundo ele, a decisão chega somente agora, pois os membros do partido acharam prudente aguardar pelo menos um ano para que o governo pudesse encontrar o caminho certo.
“É um governo perseguidor, autoritário e que não é saudável, que está preocupado apenas com projetos individuais e não com o coletivo. Não compactuamos com isso”, enumerou.
As insatisfações dizem respeito, por exemplo, aos embates com os servidores públicos municipais e a terceirização de serviços do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) à iniciativa privada. “Ele (Stupp) prometeu também em palanque, com o nosso apoio, o redirecionamento da merenda escolar, e hoje, o que vemos, é que encareceu ainda mais”, completou Mendonça.
O presidente queixa-se também da falta de diálogo entre governo e o partido que o apoiou nas últimas eleições. “Nossa relação é zero desde o ano passado. O Stupp não tem relação respeitosa com os aliados. O que ele tem é o apoio dos vereadores para apoiarem os projetos autoritários que ele envia para a Câmara”, disparou.
Diplomático, Stupp minimizou a situação. “Estamos em um país democrático. Fizemos a junção de 10 partidos para ganhar as eleições, somos gratos, mas respeitamos a decisão”, iniciou.
O prefeito acredita que a decisão do partido não deve afetar a boa relação que a Administração mantém com os vereadores, que segundo ele, levavam diversas demandas ao Gabinete e nem com os deputados estaduais e federais. “Eles trouxeram vários benefícios à cidade”, salientou.
“O PV em nenhum momento veio discutir um Plano de Governo conosco. Lamento, porque queria muito que eles nos ajudassem a construir uma cidade melhor”, finalizou o prefeito Gustavo Stupp.
Decisão não altera situação favorável na Câmara
A saída do PV da base aliada não deve alterar a situação favorável que o governo mantém na Câmara Municipal. No Legislativo, são dois vereadores representando a bancada do partido: Daniel Santos e Benedito José do Couto, o Dito da Farmácia, este último, presidente da Casa de Leis.
O PV os convocou a defender a posição da executiva. “Queremos que os vereadores estejam com o partido e que votem sempre favorável a pedidos de informações sobre atos da Prefeitura. Esse é o papel do vereador”, disse Anderson Mendonça.
Daniel Santos afirmou que está tranquilo com as posições que deve tomar a partir de agora. “Na reunião, ficou claro que as posições dos vereadores serão respeitadas, independente de quais forem. Acho muito cedo para virarmos oposição, mas vamos ver como vai ser agora na prática”, declarou.
O presidente da Câmara não foi encontrado para comentar a decisão do partido, e qual será sua posição a partir de agora. Fontes revelam que a posição de Dito, favorável ao governo, deve permanecer a mesma.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA:
PV, OPOSIÇÃO POR RESPEITO À POLÍTICA E AO PARTIDO
Em 1999 constituía-se o Partido Verde em Mogi Mirim. Uns, dissidentes do PT, outros, convencidos pelas causas ambientais, ou ainda, um terceiro grupo, convicto do nascimento de um novo caminho na política da cidade. A verdade é que por esta ou aquela razão o PV se inseria definitivamente no cenário político de Mogi Mirim e começaria sua história.
Sua história, suas raízes, sua gênese! Que legado construímos? Que legado construiremos? Esta tem sido a tônica dos diálogos dentro do PV, as conversas circulam em torno deste tema e os embates são veementes sobre as consequências em apoiar ou não a atual administração. A maioria defende o distanciamento do governo Stupp, alguns com mais vigor, e, claro, há os que acreditam que o atrelamento incondicional é a melhor opção.
Mas, como estar com um governo autoritário, perseguidor, que não conversa com a comunidade ou aliados; que ignora qualquer princípio ético norteador da relação política; que mantém a câmara no cabresto, oferecendo-lhe torrões de açúcar para mantê-la dócil; que não tem projeto de cidade. Alguém saberia dizer qual a meta da atual administração, para onde pretende conduzir Mogi Mirim? Os projetos são pessoais, o desejo é individual. Pior, há aqueles que defendem cegamente a administração e não se atentam que na política o essencial são os projetos que beneficiem a cidade.
Alguns se fecham em torno do atual governo e o defende como se estivesse debatendo preferência futebolística. Não podemos assumir incondicionalmente a defesa de um governo só para torná-lo arsenal bélico a ser usado contra o governo anterior ou para afirmar que o seu escolhido, como no futebol, é melhor que o escolhido do outro. Ora, somos mais esclarecidos que isto. Não se trata de ser a favor ou contra por razões fúteis. Política não é esporte que pode torcer a favor deste ou contra aquele. Política é torcer sempre em favor da sua cidade e, quando o administrador se desvia desse propósito, não serve.
Gerir uma cidade não é o mesmo que gerir nossa casa. Serviço público não tem o mesmo viés que empresa privada. A empresa privada persegue o lucro, o gestor público compatibiliza interesses contrários, coaduna a diversidade social e transforma essa miscelânea em um projeto de cidade. É o que temos?
Diálogo com a sociedade, ausência de metas, projetos pessoais em detrimento de um projeto de cidade, perseguição, autoritarismo. Estes e muitos outros são questionamentos que o PV tem feito internamente. A câmara municipal, arena de confronto de ideias, com pouquíssimas exceções, submete-se a todas as determinações do prefeito, não debate as matérias do executivo nem para disfarçar sua submissão. O que esse governo tem de tão sedutor?
Por estas razões o PV não quer fazer parte desse governo. A maioria absoluta da executiva do PV decidiu e assume, definitivamente, a condição de partido de oposição. Convocamos nossos dois vereadores, que foram eleitos pelo povo e para defender os interesses do povo a estarem com o partido. Convocamos nossos dois vereadores para que não votem matérias de interesse exclusivo do prefeito. Para se posicionarem contra a privatização do SAAE; que estejam ao lado do funcionalismo e em defesa do erário público na questão do regime dos servidores municipais; que votem a favor de todos os pedidos de informações dos atos do executivo e que reforcem a oposição, promovendo debates honestos, transparentes e comprometidos com o desenvolvimento de Mogi Mirim.
Nota enviada em nome da Executiva Municipal
Anderson Mendonça
Membro da executiva