Óbvio que a sensação manifestada no título acima é expressão do meu sentimento particular. Explico: é recorrente dizer que o ano começa depois do Carnaval.
Pois bem. Sendo assim, 2015 se inaugurou na quarta-feira, o dia das Cinzas segundo o calendário católico. Como todos os outros, terminou na virada da zero hora. E antes que a madrugada substituísse a noite, ocorreu o episódio que abriu o ano – para mim – da maneira mais desagradável possível, ainda que previsível.
Na virada do ano, o Corinthians banhou-se em champanhe, humilhando aquele que, um dia, não faz muito tempo, arrogantemente se atribui a condição de Soberano. A Rádio Central de Campinas tinha um programa chamado Banho de Bola. Pois foi o que o Timão fez com o São Paulo na noite de quarta-feira, 1 de janeiro de 2015, com 49 dias de atraso.
Se virada de ano é sempre coisa inesquecível, como apagar da memória a noite em que seu “amado clube brasileiro” lambeu as botinas do inimigo, quedado mortalmente, sem reação, sem raça, sem sangue, entregue à suprema humilhação.
Não estou falando de futebol, de tática, de estratégia, de escalação e coisas do ramo. Estou falando de sentimentos, como foram estes que moveram os brasileiros nos fatídicos 1 a 7 diante da Alemanha, no “maior mundial de todos os tempos” segundo definição dilmiana.
Eu já estou meio vacinado, tantas são as más lembranças e os péssimos sentimentos que venho colhendo nesta estrada com quilômetro zero em 1947. No caso específico do primeiro dia de 2015, minhas desconfianças eram fortes – para não dizer convicções mesmo – de que o time cujas glórias vêm do passado não suportaria ao poder das garras do gavião.
De qualquer forma, lá no fundo do velho coração movido a uma mamária e um stent, num cantinho, no recôndito, uma tênue esperança ainda tentava resistir à tempestade iminente. Que veio. E como veio. Não me enraiveci. Longe estive de ficar puto. Acho que sequer um único palavrão proferi. Reagi mansamente. Com alguma calma, ainda que com a alma dilacerada. Racionalizei. E, de algum modo, lembrei-me do conselho de Marta Suplicy quando ministra de Turismo: ante a dificuldade, o contratempo, a contrariedade, relaxa e goza.
Não cheguei ao ponto porque isto é coisa que já não me pertence mais.
Na verdade, o mal estava feito desde o apito inicial do árbitro. Não houve momento algum em que o time cujo hino evoca como “és forte” e como “és grande” tenha sido capaz de oferecer a mais miserável resistência e mais pobre reação de agressividade. Foi, pelo tempo todo, fraco e pequeno. Coisas da bola? Sim, perder é coisa da bola. Submeter-se ao adversário indefesamente e malemolentemente não é.
Ora, para ser entendido o sentido destas linhas, volto às místicas da virada de ano. Ir bem no primeiro dia é pressentir um ano próspero, com sucessos, alegrias e tudo o mais. Agora, entrar no ano com o pé esquerdo é perspectiva de azia.
Daí que sou levado a projetar um ano novo de poucos risos, baseado no fato de que seu primeiro dia foi ruim, muito ruim. Que fazer? Conformar-me com o que os céus me reservaram? Ou virar a bandeira e passar a torcer para o Corinthians, que prevejo ser o dono do ano? Estou tentado a …. Nã-nã-nani-nanã. Não se para onde, mas vai São Paulo!
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR