Certa vez ouvi uma frase que guardo para mim até hoje: “quando nasce um filho, nasce também uma mãe”. Acho a mais pura verdade, só acrescentaria que isso acontece por várias vezes. Cada fase tem uma exigência. Quando bebê, é uma doideira a gente ter que identificar o que cada choro representa. E não é que conseguimos? O tempo vai passando e os desafios vão sendo outros. É como equilibrar bandejas, é preciso reconhecer o que se deve prender e soltar para não formar adultos inseguros ou alienados.
Lá em casa estamos vivendo a liberdade da bicicleta. Por mim, ninguém saía do quarteirão rs. Mas… Já foi viajar, mexer no fogão, andar na rua, pegar Uber e inúmeras outras coisas em que tive que cortar o cordão e confiar.
Eu tenho um manual de autoajuda. Sempre tem aquelas mães que a gente gosta do jeito que educa e que confia. Quando eu não sei bem o que fazer numa situação, vejo o que elas estão fazendo e uso de referência.
Falando em referências, faz mais ou menos um ano, apareceu um gato lá em casa e sabe que eu acho que ter um felino é uma boa experiência para quem ainda não tem certeza da maternidade. Vou explicar melhor. O gato é feito água: impossível de trancafiar. Depois da castração até melhora, mas o mundo é ilimitado para eles.
O Reginaldo, por exemplo, ama ficar na calçada olhando a rua, se esconder no mato do terreno na frente de casa e subir numa mangueira enorme. Eu tenho a sorte de morar no final de uma rua sem saída, que praticamente não passa carro.
Cada vez que o bichano sai, meu coração fica aflito. Então você pensa: “é só não deixá-lo ir?” Seria, mas, cada vez que lembro da carinha de satisfação dele quando está vivendo essas coisas, acho muito egoísmo da minha parte. Ele é feliz no mundo.
Assim é com os filhos. A vontade que dá é de não soltar a mão, mas, para mim, impedir alguém de viver também é fazer morrer. Nós somos a somatória do que vemos, do que sentimos, das coisas que tocamos. Portanto, quanto menos sensações, menos vida.
Mas não se enganem, não sou esse poço de equilíbrio. Quando fico muito ansiosa, tento mudar o foco, me envolver em alguma atividade para distrair até que eles retornem para meu lado. No caso do gato, como ele não fala e nem tem amigos, eu saio de pijama e lanterna, só para achar aqueles olhinhos brilhantes e meu coração sossegar. Já virei chacota, mas nem ligo, acho o amor brega mesmo.