Chegou ao fim, no último dia 24 de outubro, uma história de luta pela vida. Elvira Nogueira de Oliveira, de 63 anos, faleceu neste dia, sem conseguir realizar a tão sonhada cirurgia que sua filha Tatiana de Cássia Oliveira vinha tentando e que depois de tantas idas e vindas pela Santa Casa e pelo UPA (Unidade de Pronto Atendimento), parecia perto de se concretizar. Um drama de quase 150 dias que O POPULAR acompanhou de perto. E que, agora, presta essa singela homenagem a quem lutou até quando pode.
“Minha mãe era uma mulher honesta, trabalhadora, sempre lutou pela família, criou dois filhos sozinha, era viúva desde os 32 anos de idade, batalhou e conseguiu nos tornar pessoas honestas, guerreiras iguais a ela. Usava oxigênio há três anos, mas tinha uma vida normal, tinha suas próprias coisas, cuidava das suas plantinhas e de seus cachorrinhos. Até que surgiu esse cisto ou tumor, que até agora nenhum médico diagnosticou exatamente porque cada exame deu um resultado”, contou a filha.
A batalha pela sobrevivência começou em julho. Elvira foi diagnosticada com cisto no útero e precisava de uma cirurgia de urgência. Mesmo com indicações para o procedimento, Elvira não conseguia realizar a cirurgia. Segundo Tatiana, foi iniciado tratamento com pedido de internação com emergência para que a mãe fosse submetida ao procedimento cirúrgico. “Tivemos muitos problemas, era Santa Casa dispensando (foram três internações e três dispensas), UPA pedindo (internação e cirurgia), vários outros médicos pedindo a cirurgia de emergência e nada foi feito. A Santa Casa só dispensando, diziam não ter materiais para cirurgia e que não tinham médicos cirurgiões obstetras.
Foi com a ajuda da vereadora Sônia Módena (PSD) que Tatiana conseguiu a internação para sua mãe. Elvira ficou dois dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “Ela ficou abandonada. Foram 25 dias recebendo medicamentos e mais nada, saiu com alta sem transferência, não foi inserida no sistema Cross, recebeu alta para ir para casa. E a barriga inchando e crescendo cada dia mais! E a gente sem saber exatamente o que era”, relatou.
Tatiana recorreu à Secretaria de Saúde e foi até conversar com o prefeito Paulo de Oliveira e Silva (PDT). “Estive no gabinete, mostrei todos os exames da minha mãe. Nada fez. Voltei na Secretaria de Saúde implorando até que consegui uma consulta para um mês depois na Unicamp que a Sra. Marisa conseguiu”, disse.
E ainda tinha mais drama. Há quase três semanas, Tatiana chamou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) porque sua mãe estava com crise de falta de ar. “Mas, não tinha ambulâncias. Só tinha uma disponível, porque a outra estava quebrada. Foram três chamadas para o Samu para levá-la ao UPA, já que ela teve uma parada respiratória. Consegui mantê-la consciente fazendo uso das bombinhas, até eles chegarem depois de 40 minutos”.
Tatiana ainda tinha esperança que sua mãe fosse resistir, já que dia 24 ela seria atendida na Unicamp. A filha passou a noite anterior com Elvira na UPA. Logo na manhã do dia 24, elas voltaram para casa. “Chegamos em casa às 7h. Deixei ela descansar, as malas estavam prontas. A chamei perto das 9h. Ela disse vamos!! A ambulância que nos levaria atrasou e foi nesse momento, de meia hora, que ela pediu para se deitar na minha cama, onde foi desfalecendo e se despedindo de mim. Tentei novamente fazer de tudo para que ela voltasse, mas dessa vez não consegui. Minha mãe morreu nos meus braços”, lamentou.
“O que restou de mim foi chorar, chorar, chorar. O coração despedaçado. Agora estou aqui tentando lutar ainda pela saúde de Mogi Mirim para que outras famílias não passem por isso também, porque estão morrendo muitas pessoas pelo mesmo descaso como foi da minha mãe! Essa dor é inexplicável, só sobrou agora a saudade, o seu cheirinho que jamais esquecerei e o tempo que vivemos juntas que nunca mais irá voltar”.