O crescente número de veículos nos últimos anos saturando nossas ruas, avenidas, provocando enormes congestionamentos e tornando o tempo médio de deslocamento entre um ponto e outro cada vez maior, tem implicado na condição de o motorista adquirir, além de fenômenos estranhos e peculiares, um alto índice de ansiedade e agressividade, tendo em vista que muitos indivíduos, quando adentram em seu veiculo, já carregam consigo as pressões do dia a dia.
No “sistema de trânsito”, o homem é o subsistema mais complexo e tem a maior possibilidade de desorganizá-lo, devido a fatores internos ou externos que podem intervir na compreensão da situação e na ação do condutor, comprometendo a sua segurança e a dos demais. Quando o ser humano sente que algo pode ameaçar seu equilíbrio, reage. Esta reação às vezes é de adaptação ao meio, pois algo constrange este equilíbrio interior, podendo contrapor-se com agressividade.
Uma agressão, constantemente, é o resultado de sentimentos de desprazer e frustrações, quando o indivíduo não consegue lidar de forma assertiva com tal condição. Tais fatores expõem que o comportamento agressivo no trânsito quando não controlado podem provocar diversos danos e riscos sociais, apontando que a agressividade neste contexto de deslocamento é um fenômeno real e crescente, e a única certeza de que se tem é que os comportamentos humanos necessitam ser urgentemente modificados.
No mês maio, teremos o maio amarelo – momento de conscientização no trânsito com o objetivo de chamar a atenção do motorista para a segurança. Tal proposta deverá enfatizar em suas campanhas, a ocorrência de um número elevado de acidentes onde o fator humano aparece como uma das principais causas. Segundo pesquisas recentes cerca de 90% dos acidentes estão associados a fatores humanos, enquanto que apenas 10% têm suas causas relacionadas às condições ambientais, condições da via ou condições do veículo.
A psicologia voltou seus estudos à área do trânsito, mais especificamente ao trânsito terrestre na década de 1920, sendo que primeiramente direcionava-se ao transporte ferroviário e posteriormente ao transporte sobre rodas. Desenvolveu-se e criou relações interdisciplinares, sendo que a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro proporcionou maior discussão sobre a importância de a psicologia direcionar seu conhecimento ao transporte.
O Conselho Federal de Psicologia – CRP (2000) define psicologia do trânsito como uma área da Psicologia que investiga os comportamentos humanos no trânsito, os fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam ou os alteram. Salienta-se que a avaliação psicológica tem em seu principal objetivo a prevenção. No entanto, a atuação do psicólogo voltada ao trânsito é ampla e na atualidade tem se direcionado a projetos de conscientização e prevenção de acidentes.
Segundo o CRP, as atribuições e campos em que o psicólogo do trânsito pode desenvolver atividades são amplas, entre elas: desenvolvimento de pesquisa científica dos processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos relacionados ao problema do trânsito, realização de exames psicológicos de aptidão profissional em candidatos a habilitação (“Psicotécnicos”), assessorar no processo de elaboração e implantação de sistemas de sinalização de trânsito, participação de equipes multiprofissionais voltadas à prevenção de acidentes de trânsito, as implicações psicológicas do alcoolismo e de outros distúrbios nas situações de trânsito, avaliação da relação causa-efeito na ocorrência de acidentes, levantando atitudes – padrão nos envolvidos nessas ocorrências e sugerindo formas de atenuar as suas incidências, estudos e projetos de educação de trânsito. E neste último, entra a necessidade ser trabalhada por todos nós, desde a infância, o desenvolvimento uma conscientização maior pela humanização do trânsito.
Cesar André Zavarize é graduado em Psicologia pela Universidade São Francisco, especialista em Psicologia do Trânsito pela Universidade de Araras. Atua como Professor na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, Psicólogo Clinico e de Avaliações Psicológicas e Periciais.