Que maternidade é igual a cansaço, eu não tenho a menor dúvida. A questão é que quando são pequenos estão sempre por perto e aquela gracinha, aquele abraço apertado e o afago são remédios instantâneos. À medida que vão crescendo acabam passando mais tempo longe que perto e essa “solidão” bagunça a gente.
Falo por mim, mas resumo o que tem sido assunto nas rodas de mães com quem encontro. Ao mesmo tempo em que fazemos questão de deixar claro que criamos filhos para o mundo, nos sentimos confusas, um misto de ingratidão e abandono cada vez que eles esticam o cordão umbilical.
E esse sentimento é base para passearmos por dentro de nós mesmas, pedacinho por pedacinho, abrir todas as caixinhas, inclusive aquelas que já estão bem empoeiradas no canto do quartinho. É um tal de “Nossa, se eu tivesse gritado menos”; “Poxa, se eu tivesse falado menos não”; “Tá vendo, eu não deveria ter desperdiçado aquele trabalho”; “Toda essa dedicação não valeu de nada”.
Não há explicação! Não sei por quantas vezes, no meio disso tudo, cheguei à conclusão de que maternidade não é para mim, que não tenho a paciência e a delicadeza das boas mães. Há pouco mais de um ano fizemos uma reforma em casa, daquelas de derrubar parede, tirar azulejo e trocar piso.
Como ela foi bem no miolo, Gabi, Neto, Nicolau e Reginaldo ficaram morando por trinta dias com a avó, em Santos. Eu e Alisson só tínhamos nosso quarto e a sala foi transformada numa quitinete, com sofá e TV dividindo espaço com a mesa, fogão e geladeira. Lavávamos a louça, ora no tanque, ora agachados na mangueira.
Fiquei a maior parte dos dias exclusivamente cuidando disso, administrando compra de material, prazo e decidindo os detalhes que surgiam. Foi em um desses dias, depois de ter uns sete homens em casa ao mesmo tempo discutindo o que fazer, depois de ter afundado do pé até a canela em um buraco, que tive uma crise de choro.
Percebi que, mesmo nesse furacão todo de viver com tudo fora do lugar, no meio da sujeira e com prestadores de serviço de funções diferentes e novas para mim, eu não perdi o humor por um momento sequer, bem diferente do que acontece na maior parte das vezes na rotina com as crianças. Senti um remorso profundo e a certeza de que, para eles, foi um equívoco do universo enviá-los a mim.
Mas não foi! No final de semana passado tivemos a casa cheia depois de uns três meses de deserto. Teve amigos, namorado, janta, violão, gente sentada na banqueta e muito show na televisão. Sábado e domingo passei o dia na cozinha enquanto o Alisson carregava caixas, como mãe e pai, só para apoiar uma causa de um grupo ao qual Gabi e Neto estão ligados.
O sentimento foi de “obrigada por poder ter estado aqui”, infinitamente maior que o cansaço. E são em momentos assim, que afastam a escuridão e me trazem a certeza de que sim, eu nasci para eles, e renasço quantas vezes forem necessárias porque é este o lugar onde quero estar.