Cheguei no meio do caminho com a maternidade. Embora eles ainda tenham menos de 20 anos, acredito que, daqui para frente, estamos esgarçando cada vez mais o cordão umbilical, num afastamento físico diário.
Já viajamos na mesma data com destino separado. Já faz meses que não somos quatro à mesa para a pizza de sábado à noite. Eu e o Alisson ficamos (um dia conto sobre isso) sobrando na festa de aniversário. Demoramos mais de um mês para conseguir combinar a agenda e visitar a família em outra cidade. Também não sou mais quem transporta no meio da tarde. Não tenho apresentação de Dia das Mães e nem reunião de pais todo bimestre.
E, como tudo na vida, isso tem dois lados, mas é preciso vencer a barreira dos sentimentos e, principalmente do autoconhecimento, para conseguir perceber. Se à primeira vista é tão cruel nos afastarmos das crias, por outro podemos resgatar nosso indivíduo com menos culpa. Sabe aquela tarde na piscina com as amigas sem ter que ficar o tempo todo levantando para ver se não tem ninguém se afogando? Então, é isso!
Só que aí mora um detalhe importante: não ter nos perdido de vista. É claro que desde a gravidez os filhos passam a ser o centro das nossas vidas e é bom que sejam mesmo para que possamos viver as experiências da maternidade de forma completa. Parece incoerente né? Mas não é!
A primeira ferramenta é saber que a vida é feita de fases, que é cíclica e adaptar o que faz sentido a ela. Foi assim que fiz anos de hidroginástica, por exemplo, por ser a única aula disponível enquanto as crianças estavam ocupadas com o jazz e o futebol. Eu adoro esportes, mas dentro do momento em que vivia, estar na água era o elo possível entre a mãe e a pessoa. Assim não ficava frustrada por não estar me movimentando e nem me sentindo mal por ter os deixado.
A outra coisa tão fundamental para mim neste processo de desmame é ter alguém que, além de figurar como pai dos filhos, figura como parceiro de vida. E é por isso que tanta gente se separa depois que a galera fica adulta: se empenharam tanto como pais que perderam a intimidade como casal.
Que fique claro que não acho nada disso tão simples como escrevo, que não são percepções que sempre tive e que escolher por elas não tenha me machucado em algum momento. A coisa mais desafiadora da maternidade, para mim, é investir tanto, tanto, mas tanto em alguém além de você e não poder esperar nada por isso.
Só que é o processo da vida! Por isso o autoconhecimento é tão libertador, porque você pode até, em alguns momentos, escolher se anular por aquilo fazer mais sentido, por trazer mais felicidade. O doído será só deixar o rio correr e, quando a vida obrigar, porque sim, ela vai, você estiver sozinho ancorado num pedaço de madeira sem saber para onde remar.