Por ocasião da morte do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, foram noticiados alguns detalhes da vida familiar que bem merecem nossa atenção:
“No fim do dia de quinta-feira, o movimento na casa da família Campos estava intenso. Eram muitos os familiares, amigos e políticos que acompanharam desde sempre a trajetória de Eduardo Campos e queriam estar perto de “dona Renata”, como ele chamava a mulher, e dos cinco filhos do casal (…). Ela [esposa] se mostrava forte, até leve, andando entre as pessoas e conversando com os que lhe procuravam para apresentar condolências. Não caiu em prantos publicamente, apesar do olhar avermelhado, que carregava ainda na noite de ontem, de quem está sentindo a dor como uma força constante. Às vezes, parecia ser ela quem tranquilizava seus interlocutores” (http://cidadeverde.com/viuva-relembra-a-ultima-conversa-com-eduardo-campos-170674).
Confesso não ser profundo conhecedor do falecido. Também não somos muito afetos a essa espécie atitude um tanto difundida entre nós de enaltecer enormemente as qualidades do defunto logo após a sua partida. Mas, feita essa ressalva, penso que atitude dos familiares diante da morte talvez seja um sinal do melhor legado que deixou.
Vivemos num mundo em que, a pretexto de se construir ou se viver num Estado laico, tenta-se introduzir uma espécie de ateísmo oficial ou, quando menos, relegar a fé, com todas as suas manifestações, a um ambiente exclusivamente privado. Mas como é bom notar que o laicismo, o materialismo e o ateísmo não conseguem prosperar neste nosso queridíssimo Brasil!
Segue outro relato extraído da matéria acima mencionada: “No início da noite, a jornalista Cecília Ramos, esposa do assessor de Eduardo, Carlos Percol, que também estava no voo, chegou à residência. Muito jovem, recém-casada, Cecília mostrava seu luto com um vestido preto e choro constante. Coube a Renata, que usava calça jeans e uma bata branca, consolá-la. Assim que a viu chegar, a anfitriã dirigiu-se à entrada da casa e abraçou sua companheira de tragédia. Cecília foi se acalmando, e logo começou a missa em homenagem aos maridos e demais vítimas do acidente. Foram os filhos que fizeram as leituras na celebração, na varanda da casa. João foi encarregado pelo Padre Luciano Brito de ler um trecho do Livro de Jó, que fala sobre vida eterna”.
Querer apagar a fé ou mesmo impedir que seja manifestada publicamente é como que retirar a alma do brasileiro. Com efeito, mal conhecemos uma pessoa num ônibus, entabulamos uma conversa afetuosa e, ao cabo de poucos minutos, nos despedimos com um sincero “vá com Deus”. Lembro-me, também, de que há poucos anos tive o privilégio de visitar alguns santuários europeus, de onde aliás herdamos as nossas profundas raízes cristãs, onde pude notar um certo esvaziamento. Em contraste, poucas semanas após, em Aparecida, notamos um fervilhar de pessoas, devotas, sinceramente piedosas, como que buscando saciar na fonte a sede de eternidade que invade seus corações.
Não é num estalo, ou num passe de mágica, que se prepara a serenidade que observamos na família Campos nos momentos de dor. Tal como a qualidade do ouro se prova no fogo, que o purifica, o amor humano é também purificado no sofrimento. Nele se depuram as impurezas que lhe retiram o brilho. E então quando se passa a tempestade, ou mesmo no meio dela, reluz a esplendorosa esperança de quem não vive para si, como também sabe não ter aqui uma morada definitiva.
E eis que então se vislumbra o magnífico paradoxo da fé: saber sorrir quando todos choram, manter a serenidade quando todos se desesperam, viver com a força do amor eterno mesmo quando aquele a quem mais amamos parece partir para nunca mais voltar.
Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC. E-mail: [email protected]
http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/