Quando fico pensando na complexidade do corpo humano, bate a certeza no meu coração que gerar alguém dentro do próprio ventre só pode mesmo ser um milagre. Quando a Gabi nasceu eu tinha apenas 21 anos, uma criança cuidando de outra. Lembro que, no hospital, enquanto ela dormia, eu ficava admirando aquele ser tão pequeno e era emocionante reconhecer nossos traços nela.
É uma relação tão, mas tão íntima ter alguém dentro de você, que se alimenta do que come, que sente suas emoções. Ao mesmo tempo são dois corpos em um. A ciência reconhece que é a mãe quem fornece os subsídios biológicos, emocionais e mentais que a criança precisa e que até os seis meses o bebê se enxerga como um pedaço dela.
Na verdade, eu acho que a gente acha isso a vida inteira. Parece que as mães são propriedade dos filhos. Eu vejo no olhar dos meus, que não é fácil para eles lidar com a minha humanidade. Cada vez que minhas ações cotidianas não correspondem com as forças sobrenaturais que esperam de mim eu os decepciono.
O mais maluco é que, independente do mundo estar como está, da quantidade e acesso à informação que temos, ainda sejamos tão primitivos em lidar com esta relação. Prova disso é que dificilmente alguém não cite sua mãe como, no mínimo, cofundadora na hora de embasar algum trauma.
Certo dia, não sei por qual motivo, caiu a ficha de que minha mãe foi avó da Gabriela com 38 anos. A idade que tenho hoje! Por vezes estamos tão centrados em achar culpados pelo que da vida nos desagradou e não sei porquê temos tanta tendência a fazer isso com nossas mães, que a pouca idade tinha me passado despercebida.
Constantemente me sinto imatura e despreparada para a maternidade. Imagina então se precisasse ser avó? Ver por este ângulo me fez ter muita empatia (palavrinha tão na moda né) pela minha mãe. Fui capaz de tirar uma mala de concreto das costas dela que eu mesma tinha colocado.
Hoje trabalho constantemente em busca da liberdade, não espero aquela relação sobrenatural que pregam como sendo obrigação de existir, nem da minha mãe para comigo e nem de mim para com meus filhos. E tomara que eu plante neles esta semente de que possamos ser livres para sermos quem somos e que seja este o verdadeiro motivo do interesse da convivência.