Ao comentar sobre o Poder Legislativo de Mogi Mirim nos últimos anos é tarefa difícil não se ver diante do tema Palácio de Cristal. Termo popularmente batizado para se referir à nova sede da Câmara Municipal, próximo à Matriz de São José, o prédio espelhado, que de longe chama atenção por sua imponência, é casa de assessores e boa parte dos vereadores desde 2015, após a saída do prédio da Rua José Alves. Reduto de trabalho de parte dos vereadores porque alguns se recusam a entrar no local, rusga do problemático acordo que selou a saída da antiga para a nova sede.
Articulado pelo proprietário do imóvel e a cúpula do governo do ex-prefeito Gustavo Stupp (PDT), teve a colaboração significativa de boa parte dos vereadores da última legislatura, encerrada do ano passado, entre eles, o ex-vereador João Antônio Pires Gonçalves, o João Carteiro, presidente da Câmara na assinatura do contrato. O fato é que a mudança desagradou muita gente. Vereadores e parcela dos munícipes, sobretudo. O motivo é o pagamento de um aluguel próximo de R$ 26 mil mensais, valor reajustado no final do ano passado e, em época de crise, investimento desnecessário, que poderia muito bem ser aplicado na solução de questões nas áreas de Saúde e Segurança, caóticas em Mogi Mirim há anos.
O caso dividiu a última legislatura, com a base do governo Stupp na luta pela mudança enquanto a ala oposicionista, em menor número, na busca incessante por barrar a transferência, em causa perdida. Agora, na atual composição do plenário, e sob uma forte pressão popular, os vereadores batem na tecla de que é necessária a saída do Palácio. O assunto ganhou força no início da gestão, mas com o passar das semanas se deparou com pendências que impedem de imediato a mudança.
A multa pela quebra de contrato, perto de R$ 540 mil, não é barata e tem complicada negociação com o proprietário do imóvel. Agora, vem a notícia de que, em decisão conjunta entre as duas comissões que analisam o caso, ficou acertada a reforma do antigo prédio da Câmara, que carece de problemas estruturais, e que deverá consumir entre R$ 400 e R$ 500 mil.
Se de um lado os vereadores acertam em desejar sair do Palácio e abdicar de um aluguel tão caro, sabem que seus assessores não têm a menor condição de trabalhar em uma sede que, além de antiga, não oferece a mínima estrutura. Não existem linhas telefônicas, sinal de internet, impressoras e espaço adequado para atender a população. Para que saiam do Palácio é preciso um estudo minucioso da forma de pagamento da multa e para onde irão assessores e parlamentares.
Defender a tese de que o plenário comporta os profissionais é tapar os olhos para a realidade e utilizar de uma demagogia barata em busca apenas de uma boa postura diante do povo, que deseja a saída. O erro foi cometido lá atrás. Para solucioná-lo é preciso calma e pés no chão. Os vereadores precisam se unir, tomar postura do que querem e divulgar medidas que solucionem o impasse. A população não tolerará outro equívoco.