A contratação do técnico Flávio Araújo pelo Mogi Mirim veio acompanhada de uma série de comentários de que o clube se equivocou ao contratar um treinador sem experiência no futebol paulista. Este tipo de crítica não é novidade. Costumeiramente ocorrem comentários exaltando a importância da experiência em São Paulo como requisito para comandar o Mogi Mirim. Em um patamar mais amplo, há quem critique a contratação de estrangeiros no Brasil pela falta de experiência no país.
O fato de ter experiência em São Paulo não deve ser um requisito para definição do treinador. Uma série de outros fatores importantes deve ser analisado como conhecimento tático, capacidade motivacional, de liderança e comando de elencos, competência para manter bons trabalhos ou reverter cenários desfavoráveis e habilidade para explorar o máximo do potencial individual e coletivo do grupo. Para avaliação destes quesitos, a experiência como treinador é fundamental, pois do contrário não há parâmetros para análise.
O local onde o trabalho foi realizado, no entanto, é insignificante. Historicamente o Mogi teve sucesso com verdadeiras apostas arriscadas, nomes sem experiência alguma seja em São Paulo, Bahia, Israel, Rio Grande do Sul ou Conchinchina. Exemplos são fartos como Argel, Vadão e Adilson Batista. Todos foram lançados pela veia inovadora do ex-presidente Wilson Barros. Estes, porém, tinham experiência em São Paulo em outras funções profissionais. O sucesso, como treinador, porém, era mais difícil de ser avaliado devido à ausência da observação prática das habilidades na função.
Outro treinador, porém, ilustra melhor como trabalhar em São Paulo não é pré-requisito para ser bem sucedido. Dado Cavalcanti chegou ao Mogi sem nunca ter atuado em São Paulo e foi o técnico que liderou a equipe do Sapo com melhor campanha na história do Paulistão. Com Dado, o Mogi foi eliminado na semifinal, perdendo nos pênaltis para o Santos, de Neymar. O treinador recebeu da Federação Paulista o prêmio de melhor técnico do campeonato. Ou seja, superou os treinadores de grandes clubes sem ter experiência no Estado.
O currículo de títulos e acessos de Flávio Araújo é muito mais expressivo que o de Dado, embora deva ser considerado que o atual treinador do Sapo é significativamente mais velho. Porém, o principal ponto a ser salientado é que o fator experiência não pode servir de muleta para analises comodistas. As críticas a Araújo devem ser feitas com base em suas características, capacidades, deficiências e histórico.
A falta de atributos suficientes para avaliá-lo por desconhecimento aprofundado de seus trabalhos anteriores deveria gerar o aguardo de seu trabalho atual para uma análise profunda. Criticar sua contratação pelos estados onde trabalhou é um preconceito de uma avaliação superficial e comodista.