Era uma vez uma terra não muito longe, onde encontrar pessoas empolgadas com a vida e com os estudos era raro. O lugar quase não tinha estudantes de fato, apenas alguns jovens enviados para as escolas, que desrespeitavam os professores, rasgavam seus livros e nem se quer davam valor para a educação, que em muitos casos estava ali, de graça e à disposição. Havia salas sem porta, cadeiras quebradas, pinturas descascadas e, de vez em quando, nem apagador o professor tinha direito, precisavam comprar. Mas, em meio a essa terra, algo chamou a atenção de alguns professores em certa ocasião: era um grupo de alunos, esses de verdade, dispostos a estudarem para valer, progredirem na vida e se tornarem cidadãos conscientes, daqueles que questionam e se importam com o futuro do Brasil e com a própria existência. Pelo texto, até parece um conto, mas podem acreditar, caros leitores, em meio a tanto caos na educação, a história é real. Esses alunos existem e são acompanhados de perto por professores voluntários de um cursinho gratuito realizado na Paróquia São Joaquim e Sant’Ana, que fica na zona Norte de Mogi Mirim.
A história começou há cerca de dois anos e hoje o cursinho atende aproximadamente 130 alunos, das mais variadas idades e regiões da cidade, e que sonham voar alto (e bem alto). Alguns querem ir para faculdades ou universidades, enquanto outros, mais jovens, querem prestar os cursos técnicos disponíveis na região. O cursinho pré-vestibular é realizado todas as noites, entre segunda e sexta-feira, entre 19h e 22h30. Já o preparatório para o vestibulinho acontece todos os sábados das 8h30 às 11h.
No suporte, professores que também vem das mais variadas cidades e instituições de ensino: escolas estaduais, particulares e até de universidades. Para terem ideia, movem o cursinho pré-vestibular 15 professores, entre as disciplinas de matemática, geografia, história, biologia, filosofia, sociologia, química e física. Já no caso do pré-vestibulinho há cinco professores orientando os jovens. Mas o que faz com que esses professores dobrem suas jornadas de forma gratuita para motivarem e ensinar os estudantes?
“Os professores às vezes revelam que vêm cansados, mas dizem que é como renovar a alma, deixar a vida mais leve. É um lugar onde dizem se sentir bem, onde podem expor suas ideias e partilhar o conteúdo”, disse Newton Magalhães, professor de Física e Matemática e coordenador voluntário do projeto.
“Eu fiquei sabendo do projeto porque uma aluna da Etec (Escola Técnica Pedro Ferreira Alves) fez no ano passado e indicou. É bom fazer um cursinho para ter uma chance maior de entrar na faculdade. Se tivesse que pagar não teria dinheiro. Quero prestar engenharia química na Unicamp e em outras que aparecer”, disse a estudante Marina Bosso, de 17 anos.
“Eu fiquei sabendo através da missa no começo do ano. Não teria condições de pagar um cursinho e estou gostando. Facilita bastante a aprendizagem e os professores são muito bons”, disse Débora Jesus de Paula, que tem 19 anos e finalizou o Ensino Médio na Escola Estadual Ernani Calbucci.
Os voos estão sendo preparados para finais felizes.
A ideia
De acordo com o professor e coordenador voluntário Newton Magalhaes, a ideia partiu do padre Sidney Wilson Basaglia em uma reunião de pastoral realizada na Igreja São Joaquim Sant’Ana, que fica em Mogi Mirim. Ele, durante a reunião, disse que havia visto o sofrimento de seu primo para fazer uma faculdade e que era seu desejo montar um cursinho para ajudar o ingresso dos jovens em cursos superiores. “Senti provocado, pois sempre tive vontade de realizar este trabalho. Convidei alguns professore se iniciamos o projeto”, disse o coordenador.
Incentivo?
O projeto não recebe qualquer incentivo, mas isso não significa que não precise de uma mãozinha para sobreviver e continuar a motivar os estudantes. Só de apostilas são gastos R$ 380 por integrante do pré-vestibular anualmente para adquirir quatro exemplares do material didático. Por enquanto, apenas uma apostila foi adquirida. “As outras dependemos de ajuda, será que não tem ninguém que pode nos ajudar a investir na educação, no futuro? É um material de primeira linha e no ano passado tivemos vários jovens que conseguiram ingressar em universidades públicas”, finalizou Magalhães.