sexta-feira, novembro 22, 2024
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O rol que taxa o valor de nossas vidas

O Sistema Único de Saúde (SUS), que nasceu perto da Constituição de 1988 e logo após o final de um dos períodos mais sombrios de nossa história, a Ditadura de Militar, garante a assistência mínima à população de um país formado sob a estrutura da desigualdade social.

Os planos de saúde nada mais são do que opções confortáveis para quem muito tem e desespero para quem, mesmo com pouco, tenta sair das condições mínimas do SUS e oferecer algo decente para si e para quem ama. Ninguém gostaria de gastar com saúde. Não é um investimento feito com o mesmo prazer de comprar um carro, um imóvel ou uma viagem. É necessidade. Pura e simples necessidade.

E, por isso mesmo que muitos buscam ir além do que os planos de saúde oferecem. Aliás, cobram caro e não entregam tudo aquilo que todos precisam. E, nos últimos dias, a sociedade teve uma derrota significativa diante do lobby das empresas de plano de saúde. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) finalizou o julgamento relativo ao rol de procedimentos e eventos de saúde estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A votação foi favorável ao caráter taxativo do rol em detrimento ao exemplificativo. Enfim, o rol exemplificativo compreendia que os planos de saúde não deveriam se limitar a cobrir apenas aquilo que está previsto na lista da ANS, uma vez que ela serve apenas como exemplo para tratamentos básicos, enquanto o rol taxativo compreende que aquilo que não é abarcado pela lista não precisa ter cobertura pelos planos de saúde.

Ou seja, para tudo aquilo que não estiver expressamente inserido no rol, o consumidor terá de procurar o SUS ou, ainda, pagar de forma particular. Como conhecemos bem as limitações do SUS, muitas famílias passarão a, ou sofrer com a demora para atender seus entes que precisam de tratamento ou dispor de um dinheiro que não têm para isso.

Entram, neste caso, o cuidado com pessoas que convivem com o autismo e também alguns tipos de quimioterapia oral e radioterapia. Imaginem a complexidade de um tratamento de TEA ser interrompido por conta desta vitória dos planos de saúde. Imagine você já gastar boa parte do seu mísero salário com plano de saúde, ele não ser mais obrigado a cobrir a quimioterapia do seu ente querido e ele sofrer com as dores pura e simplesmente porque este tratamento não consta no rol taxativo da ANS.

É o exemplo caro do quanto o capital se sobrepõe à empatia e o amor ao próximo. No final, o que vale é o dinheiro. A vida? Essa não vale nada. Ou melhor, vale o quanto cada um pode pagar. E a maioria, como sabemos, não pode. Não tem condições de pagar. Nos perdemos, muitas vezes, em debates sobre as opções individuais dos seres humanos e não nos apegamos a causas coletivas como esta.

O quanto você está interado sobre o rol taxativo? Por que você não pediria ao seu vereador para lutar para que inúmeros tratamentos tenham respaldo dos planos de saúde sem aumento ou sem cobranças à parte e absurdas? Enquanto nos perdemos na cortina de fumaça, a boiada vai passando e nós, meros integrantes da ralé social deste país, seguimos como carne barata para que porcos engordurados de poder e dinheiro sigam engordando às custas de nossas dores, de nossas vidas.

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