Eu sou filha de mãe solteira. Quando nasci ela tinha acabado de completar 17 anos. Acreditem, em 1982, ter uma filha sem marido era uma aberração. Nada mais importava: nem a justificativa da inconsequência da juventude, nem ser uma boa filha, nem ir bem na escola. Nem… nem… nem!
Mas como sempre repito: a vida é boa! Quando eu tinha cinco anos minha mãe conheceu o Plínio, o ser humano mais divino que eu conheço. Não digo tudo isso para parecer bonito, porque, por melhor que eu fale, jamais chegarei perto em traduzi-lo a vocês por palavras. Quanto mais madura me torno, mais o admiro!
Vejam bem! Ele conheceu minha mãe com 24 anos, ela com 26. Ele morava no sítio, numa espécie de colônia em que normalmente as pessoas casavam-se entre si. Ela da cidade, puxando uma filha pelas mãos. Imagina a coragem que precisou ter para viver tudo isso?
Fui dama de honra do casamento aos 10 anos, mas só fui morar na mesma casa aos 13. Sabe aquelas historinhas tristes de fazer diferença entre os filhos de sangue? Nunca tive, nunca vivi! Me levava para a escola, dava dinheiro para sair aos finais de semana, pagou faculdade, levou ao altar, adotou o Alisson quando o pai dele morreu e foi o avô conserta tudo que sempre tinha uma solução para consertar as coisas do Neto quando quebravam.
Confesso que, em alguns momentos da vida, eu questionei Deus – autor da existência para mim – por não ter nascido numa família tradicional. Mas como acredito que Ele sempre é caprichoso com os segredos do nosso coração, me mostrou diversas vezes o sentido de ter um Plínio na vida, muito maior do que qualquer sangue.
Observar quem ele é e aprender é um privilégio! E não falo dessas coisas básicas como trabalhador, honesto, não. Falo de alguém fênix, que já vi renascer das cinzas mais de uma vez por rasteiras da vida. E que, apesar de tudo, não aponta, que não limita, não deixa ninguém para trás, não julga, só respeita, ampara e acolhe. Eu como mortal já testei, já joguei aquele veneno esperando uma fofoca, sabe? Caí do cavalo!
Um dia, nessas conversas da madrugada, meu irmão conseguiu resumir bem: “ele não é de palavras, mas eu me sinto amado em tudo que ele faz”. É isso! E hoje, após ter minha própria família, saber o tanto de responsabilidade, o tanto de investimento de tempo e dinheiro, o tanto que tenho que ter paciência, só consigo imaginar que ele viu minha mãe de verdade, ele a enxergou através daquela lente boçal e devolveu dignidade àquele coração, por isso assumiu tamanho compromisso.
Falar sobre o Plínio renderia ainda muitas páginas. Porém, como preciso ser breve, vou simplificar. Nós nascemos livres, mas nos colocam em caixinhas iguais, como se todos tivéssemos o mesmo formato e não temos. E como as pessoas são diversas, as associações que decidem ser família também. A paternidade está em branco na minha certidão de nascimento e assim permanecerá, porque essa é a minha história. O Plínio não substitui o meu pai, porque, na minha vida, a sua grandiosidade não caberia apenas neste papel!