domingo, abril 20, 2025
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O suicídio na pauta jornalística

Por uma espécie de convenção informal entre órgãos de imprensa e jornalistas, uma prática evita a publicação de notícias de suicídio. A principal razão é inibir o fenômeno do contágio em uma teoria que considera que a divulgação pode estimular pessoas com tendências suicidas a repetirem o ato. Por outro lado, há um conceito de que o suicídio deve ser publicado se houver relevância pública. Neste patamar estão notícias de pessoas públicas, como as com postos relevantes na sociedade. Nestes casos, a causa da morte não deve ser omitida e, sim, publicada, pois a imprensa tem um compromisso com a realidade.
Por outro lado, é recomendado cuidado na forma de publicação e evitar uma descrição aprofundada do método para o suicídio, que deve ser revelado de forma discreta. Este quesito é baseado em estudos que apontam que a taxa de suicídios não sofre profunda alteração com as notícias de forma geral. Porém, o formato empregado em si registra um aumento mais sensível após os fatores serem divulgados. Da mesma forma, é recomendado que as matérias sejam acompanhadas de notícia com orientações a pessoas que pensam em suicídio e entes próximos sobre onde procurar ajuda para os problemas.
A abrangência da teoria do contágio é questionada por quem entende que outras notícias sobre violência não deveriam ser publicadas. Esta tese acredita que o suicídio deveria ter o mesmo tratamento de casos de grande impacto emocional como assassinatos bárbaros, que costumam ter ampla divulgação. Porém, um diferencial do suicídio é ser um ato que atinge fisicamente apenas a si, com motivações íntimas, diferente da violência a terceiros que servem de alerta coletivo. Além disso, convencionalmente, a imprensa prefere não desafiar a teoria do contágio nesse quesito. São aceitas apenas exceções, em que se enquadra o caso do presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, Luciano Mello. O POPULAR divulga essa notícia pela relevância do personagem. Casos de desconhecidos também devem ser divulgados se houver relevância social como o suicídio de um detento em uma prisão, que pode representar informação relevante do sistema penitenciário.
Por outro lado, se as notícias em geral não são divulgadas, o suicídio não pode ser ignorado. Informações sobre o fenômeno, sem abordagem de casos específicos, devem ser dadas como alerta. A psicologia e a sociologia explicam diferentes perfis suicidas, até relativos à cultura. O suicídio é um dos principais fenômenos em que a busca pelo equilíbrio entre o interesse público e as análises de impacto é essencial na definição da pauta. Visões simplistas não colaboram no aperfeiçoamento das abordagens. A linha é tênue e o jornalismo deve buscar informar o leitor sem desrespeitar os delicados limites das convenções embasadas em motivações nobres, com o devido respeito à relevância jornalística.

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