As chuvas dessa semana, aliadas a esse tempinho em que, hora cai alguns pingos, tempo depois uma tempestade, e em que também seguimos morrendo de calor, me fizeram lembrar de uma ilustração que fiz há bastante tempo. Talvez tenha sido a primeira após meu retorno aos trabalhos de ilustração, em que usei a frase: “Menina, foi só um dia cinza”. Lembro que fiz essa ilustração em um período que o clima estava assim, como o dessa semana, e em que vivenciava alguns problemas (quem é que não tem, não é mesmo?). Os períodos estão parecidos, então busco me inspirar onde quer que seja e, quem sabe, dar outra perspectiva para você também!
A frase que destaquei em minha ilustração vai além das chuvas, da ação da natureza. Pois, também temos dias cinzas em nosso existir e situações que parecem sem graça, sem cor e distante de qualquer possibilidade de mudança. Há momentos em que os dias cinzas acontecem em sequência, assim como nesta semana, e que parece que não haverá mais sol para abrilhantar nossos dias e o coração, não é verdade?! É sim, eu sei. Eu vivo isso também. Sei que tem momentos que até mesmo perdemos as esperanças, nos sentimos imóveis frente a esses dias e, mais, parece que sem forças para esperar novos e inspiradores momentos. Mas, realmente, tudo passa, e ainda bem que podemos acreditar que isso é real! Ou alguma vez não passou? Passou, sim!
Costumo dizer aos meus alunos, e para mim mesma internamente, o quanto costumamos valorizar especialmente as coisas ruins que nos acontecem e como deixamos de perceber as maravilhas que também nos ocorrem diariamente.
Vamos imaginar que tenhamos ficado doente por uma semana no último ano, pode usar como exemplo uma gripe, mas que acabou nos derrubando um pouco. Tenho certeza que muitos de nós tenha colocado toda a culpa do mundo na tal gripe, brigado com Deus e o mundo por estar, por exemplo, espirrando e com o nariz escorrendo de um jeito que, aos nossos olhos, não poderia ser! Tudo bem que é ruim ficar doente, mas nem paramos para pensar quantas semanas passamos sem estarmos gripados. Temos como costume valorizar muito aquilo que nos ocorre de ruim e tratar como normal o que ocorre no cotidiano e dá certo.
No começo do ano, eu tive a ideia de fazer um sorteio de um kit contendo alguns trabalhos realizados a partir de minhas ilustrações. Uma das solicitações para concorrer a esse sorteio era sugerir um tema para que eu ilustrasse. Acabei sorteando um tema também e o primeiro trabalho deste ano foi justamente: gratidão, sugerido pela Fernanda Rosa, da academia Scult só para mulheres, localizada em Mogi Mirim.
Fui pesquisar sobre o tema e pude notar exatamente o quanto não nos atentamos em agradecer aquilo que nos é permitido diariamente, como ter uma casa, uma cama para descansar, nosso almoço e jantar de cada dia e até a oportunidade de ter mais um dia para fazer tudo novamente acontecer, assim como corrigir nossos atos e transformar o percurso.
Mas, é assim, junto dessa nova pesquisa para compor a ilustração e que, racionalmente, consigo explicar, confesso que também vem a dificuldade de praticar. É preciso de muito esforço e disciplina para praticar a gratidão. Tem dias que eu não consigo, tem dias que sim…
Lendo sobre o assunto, uma das ideias é sair colando post-it por todos os lados, por exemplo, lembrando a si mesmo de agradecer. Pode funcionar! Não custa tentar!
Ludmila Fontoura
jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUC-Campinas, além de Historiadora e pós-graduada em História Social pelas Faculdades Integradas Maria Imaculada de Mogi Guaçu, as Fimi.
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